domingo, 28 de dezembro de 2008

O amor está a esperar

Pour mes amies que j'aime

Joaninhas possuem asas pequeninas e, por conta disso, alçam vôos modestos. Mas, como as borboletas, também apreciam a beleza dos jardins em flor. Estava eu a voltear (sim, joaninhas podem voltear! Nunca duvidem disso!) nos roseirais do norte, quando avistei no alto do monte real a bela e formosa Flor-de-Lis. No jardim, não havia quem não a admirasse. Naquela tarde de verão, porém, algo mudara. Quase todos perceberam a súbita mudança, embora muitos tenham optado por omitir qualquer tipo de comentário. Sua imensa formosura era incapaz de disfarçar a indisfarçável tristeza que se abatera sobre suas róseas pétalas. Voei ao seu encontro e perguntei-lhe o que estava a ofuscar seu brilho intenso. Ela nada respondeu. Calei-me, então. De certo a bela Flor-de-Lis estava a esperar que o vento trouxesse de volta a amiga borboleta que as lufadas juninas levaram para o sul. Fiquei a pensar com minhas negras pintas que jamais havia testemunhado comunhão igual àquela. Tão pura, tão intensa, tão feliz. Hei de vê-las juntas outra vez, a bela Flor-de-Lis e sua amiga borboleta, brilhando livres, soltas, leves a sorrir para os jardins do mundo, como deve acontecer. Entre dois seres que se amam o amor tem de florescer, haja o que houver. E haverá o tempo do desabrochar. Nesses dias, todos hão de ver os ventos a soprar incessantemente (por Coccinelle).

Haja o que houver (Madredeus)

Amo esse conjunto (pena que se desfez em 2007) e especialmente essa música. Deleitem-se, mes amies! Essa postagem é para vocês!
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Haja o que houver
eu estou aqui
haja o que houver
espero por ti
Volta no vento
Ó meu amor
Volta depressa
por favor
Há quanto tempo já esqueci
Porque fiquei
longe de ti
Cada momento
é pior
Volta no vento
por favor

Eu sei, eu sei
Quem és para mim
Haja o que houver
espero por ti

Créditos:

Letra e Música: Pedro Ayres Magalhães
Voz: Teresa Salgueiro
Guitarra clássica: Pedro Ayres Magalhães
Guitarra clássica: José Peixoto
Sintetizadores: Carlos Maria Trindade
Guitarra Baixo Acústica: Fernando Júdice
Vídeo dirigido por José F. Pinheiro (1998)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Maria Bethânia interpreta BÁRBARA de Chico Buarque e Ruy Guerra


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BÁRBARA (letra)
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Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor, vem me buscar

O meu destino é caminhar assim
Desesperada e nua
Sabendo que no fim da noite serei tua
Deixa eu te proteger do mal, dos medos e da chuva
Acumulando de prazeres teu leito de viúva

Bárbara, Bárbara
Nunca é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar

Vamos ceder enfim à tentação
Das nossas bocas cruas
E mergulhar no poço escuro de nós duas
Vamos viver agonizando uma paixão vadia
Maravilhosa e transbordante, feito uma hemorragia

Bárbara, Bárbara
Nunc é tarde, nunca é demais
Onde estou, onde estás
Meu amor vem me buscar Bárbara

Leitura imprescindível

A Liga Brasileira de Lésbicas: produção de sentidos na construção do sujeito político lésbicas – por MARIA CÉLIA ORLATO SELEM.
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Resumo:
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O presente artigo objetiva analisar as práticas discursivas da Liga Brasileira de Lésbicas, um movimento social brasileiro constituído exclusivamente por mulheres auto-idenficadas como lésbicas ou bissexuais. Busquei levantar matrizes de inteligibilidade que eram particularmente expressivas no que diz respeito às representações sociais e auto-representações das militantes deste movimento na construção de um sujeito político nacional “lésbica”, objeto desse estudo. Por meio dessas matrizes foi possível sugerir que as militantes, em suas práticas discursivas, apesar do atrelamento aos signos do presente, realizam dinâmicas de transformação do binário masculino/feminino que informa o imaginário social ancorado na evidência da heterossexualidade, a qual fundamenta as diferenças e a conseqüente subjugação das mulheres na sociedade. LER ARTIGO NA ÍNTEGRA - CLIQUE AQUI.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Há qualquer coisa de podre no reino do Blogger?

Censurar. Verbo transitivo direto que significa ato de exercer censura moral, política, estética, religiosa, sexual, entre outras, sobre produção artística ou informativa, espetáculo, idéias, comportamentos, enfim, sobre toda forma de expressão. Utilizada pelo estado ou pelos grupos hegemônicos, a censura tem por objetivo suprimir informações, opiniões e formas de expressão que de alguma maneira ameacem ou contrariem os padrões estabelecidos ou o status quo das camadas dominantes da sociedade. Nessa acepção, a censura nada mais é do que uma ferramenta de manutenção do poder esteja ele localizado nas instâncias governamentais ou nas instâncias mais capilares da vida social.

A censura sempre foi a arma dos déspotas, dos tiranos e dos covardes. Ao longo da história são inúmeros os casos de obras de arte, idéias, comportamentos ou atitudes que foram censuradas seja através de punições legais, como queimar na fogueira as bruxas, que na Idade Média ameaçavam os ideais e padrões do patriarcado; seja através de torturas, prisões, decretos ou banimento deste ou daquele indivíduo ou conteúdo considerado impróprio.

Engana-se quem pensa que a censura é um instrumento de sociedades totalitárias ou de regimes ditatoriais. Nas sociedades contemporâneas, mesmo aquelas regidas por idéias como Direitos Humanos, liberdade de expressão e pelos valores democráticos, a censura também é exercida, de uma maneira muito sutil, é claro, para que a prática não pareça destoar do discurso.

Com o advento da internet muitos acreditam que hoje a censura pode ser contornada ou burlada com mais facilidade, uma vez que a web permite um fácil acesso a dados não subordinados às fronteiras geográficas ou ao controle rígido dos órgãos estatais. Mais um engano. Corre por aí que o Blogger da Google anda censurando blogs de conteúdo lésbico que não contrariam ou infringem nenhuma norma do termo de compromisso da empresa, tampouco dos seus termos de serviço. O que estaria por trás dessa manobra? A proteção aos “navegantes” ou o medo do que as discípulas de Safo têm a dizer? Isso me faz lembrar uma máxima oriunda da tradição de alguns povos idígenas da América do Norte, que aqui adapto ao contexto: será sempre um risco ler histórias assim [repletas de lesbiandades], sobretudo nos períodos em que não cai a neve. Fiquemos de olhos bem abertos (por Coccinelle).

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Santa Tereza D'Ávila

Santa Tereza D'Ávila foi uma monja carmelita cujos escritos, repletos de fé e êxtases espirituais, estavam em consonância com o espírito barroco, repleto de contradições. Nascida aos 28 de março de 1515 no município de Gotarrendura, na província de Ávila, Espanha, o teor de suas experiências místicas com Jesus provocou tamanho espanto em muitos de seus superiores, que ela correu o risco de ser levada às fogueiras da Inquisição. Na verdade, as contradições interiores experimentadas pela santa, dividida entre servir a Cristo com ardorosa entrega e refrear seus impulsos sexuais, incompatíveis com a vida religiosa e o ideal de mulher honrada, refletiam as contradições de uma época, marcada, entre outras coisas, pelo embate constante da fé com a razão e a incessante batalha da virtude contra o pecado. Dentro desse contexto, as visões mentais da santa e seus freqüentes colóquios com Jesus se constituíam em fonte de violenta perturbação, pois ela, a princípio, as interpretava como sendo frutos da sua vaidade e da influência do Diabo. Com o tempo ela e seus confessores se convenceram que as forças do mal não teriam capacidade suficiente para falar como Cristo de maneira tão coerente e iluminada (por Coccinelle).

Autobiografia - por Santa Tereza de Ávila

Eu vi ao meu lado esquerdo um anjo em sua forma física – um tipo de visão a qual eu não estou habituada a ter, exceto em raras ocasiões. Embora eu veja frequentemente representações de anjos, minhas visões costumam ser metafísicas. Quis o Senhor que eu visse aquele anjo desta maneira. Ele não era alto, e sim baixo, além de muito bonito, sua face iluminada me fazia crer se tratar de um tipo superior de anjo que parece ser todo fogo [...] Consigo trazia uma longa haste dourada em cujo extremo havia uma lâmina pontiaguda, que parecia estar em chamas. Com seu ponteiro incandescente ele trespassou meu coração por várias vezes e, assim, penetrou-me fundo. [O anjo do Senhor me possuiu e me arrebatou para sobre uma nuvem, então, me penetrou com sua seta incandescente e eu fui levada ao paraíso]. Suas contínuas estocadas me fizeram crer que minhas entranhas estavam se expandindo e, deste modo, ele me deixou queimando por completo no grande amor divino. A dor era tão aguda que me fazia expressar vários lamentos; e tão excessiva era a doçura causada em mim por essa intensa dor que ninguém poderia desejar perdê-la, nem alma alguma se contentaria com nada além de Deus. Não se tratava de uma dor física, mas espiritual, embora o corpo, em grande parte, também a compartilhasse. Tão suaves são os colóquios de amor que ocorrem entre a alma e Deus que se alguém, porventura, achar que eu estou enganada, eu suplico ao Senhor, em sua infinita bondade, para dar-lhe a mesma experiência (Tradução: Coccinelle).

Reflexão

O supremo fim da sexualidade não é manter o mundo pela reprodução, nem ajudar a suportá-lo pelo prazer, nem idealizá-lo pelo amor romântico, mas dissolvê-lo pelo êxtase (Paulo Borges in: A cada instante estamos a tempo de nunca haver nascido).