domingo, 25 de outubro de 2009

Senado do Uruguai aprova lei de mudança de sexo

O Senado do Uruguai aprovou, no último dia 12 de outubro, uma lei que permite a mudança de sexo e de nome no país. “Toda pessoa tem o direito de desenvolver livremente sua personalidade de acordo com a identidade de seu gênero, independentemente de sua identidade biológica, genética ou anatômica”, diz o texto aprovado pelo Senado. No mês passado, a Câmara dos Deputados havia aprovado a lei, chamada de Lei de Identidade de Gêneros, que regula os procedimentos para a troca de gênero a partir dos 18 anos de idade. A legislação permitirá aos interessados mudar de nome e gênero em seus documentos oficiais. Para ser sancionada, a lei agora deve ser assinada pelo presidente Tabaré Vázquez.

OUTRAS MEDIDAS

No mês passado, o Uruguai se tornou o primeiro país da América Latina a autorizar a adoção por casais homossexuais. O governo do presidente Tabaré Vázquez - o primeiro líder de esquerda a assumir a Presidência do Uruguai - aprovou em maio o acesso dos homossexuais às escolas militares do país. Em 2008, o governo também aprovou a união civil entre homossexuais. Apesar disso, a inclinação liberal do governo encontra críticos dentro do país. Em entrevista ao canal de televisão Univision, o arcebispo de Montevidéu, Nicolas Cotugno, afirmou que “o tema da adoção de crianças por homossexuais se refere essencialmente à natureza humana e conseqüentemente se trata de ir contra os direitos fundamentais do ser humano enquanto pessoa”. O porta-voz da ONG Coordinadora Nacional por la Vida, Nestor Martinez também criticou a medida em entrevista ao jornal uruguaio El País, na qual afirmou que a legalização da adoção gay “constitui um retrocesso e um atentado aos direitos das crianças” (Notícia retirada do site da BBC Brasil).

Que os bons ventos uruguaios soprem e se espalhem pelas mais longínquas paragens e rincões latino-americanos.

domingo, 18 de outubro de 2009

Descobrir-se é descolar-se

Descobrir-se é descolar-se. Descolar-se implica deixar para trás as lembranças de uma vida que uma vez rompida não se refaz jamais. Descobrirmo-nos homossexuais, por exemplo, significa rompermos barreiras, convenções, medos, receios, afetos que, ao revelarmo-nos, revelam-se meras ilusões. Quantas foram as dores que amarguei, foram tantas que nem sei, ao perceber faces queridas afastarem-se de mim ou mesmo me evitarem. Tudo isso devido ao meu desejo safo cuja natureza contraria o pai, aborrece a mãe, a esposa, o esposo, os filhos, os irmãos, o mundo, enfim. Mas não me queixo das dores as quais experimentei, afinal, vida sem dor é o mesmo que morte. Somente os mortos estão imunes à dor. Ademais, da dor nascem os anticorpos que nos fortalecem. E assim fortalecidos seguimos descolando-nos. Por isso, cara amiga, não te entristeça se as borboletas que sempre voltearam perto de ti já não volteiam como outrora. Saiba que nos jardins da vida novas borboletas chegam a toda hora. Basta olhar ao seu redor para percebê-las em revoada rumo a flor que tanto aprecias (por Coccinelle).

domingo, 11 de outubro de 2009

“William Blake é meu guia espiritual” (Allen Ginsberg)

Mas quem é esse tal William Blake? Um pássaro? Um avião? Talvez um Gênio cuja espada flamejante escancara as portas da percepção. Nascido na Inglaterra em 1757, Blake, esse Gênio genial, é considerado uma das grandes vozes da poesia inglesa. Além de escrever, também pintava e atuava como impressor. Por conta de seus trabalhos de impressão Blake figura como um dos mais importantes gravadores da história da Inglaterra. Morou em Londres, sua terra natal, praticamente por toda a vida. Sua obra está toda impregnada por uma aura mística e religiosa. Aos quatro anos ocorrem as primeiras manifestações de vidência. O então menino avistou a face de Deus em sua janela. Assustou-se e deu um grito. Mais tarde, quando passeava por campos verdejantes, deparou-se com uma árvore repleta de anjos cujas asas refletiam as cores do arco-íris (que belo!) e mais adiante viu o profeta Ezequiel calmamente sentado. Ao relatar suas visões para a mãe, levou uma surra. Aos dez anos foi enviado à escola de desenho. Aos catorze, tornou-se aprendiz do gravador James Basire. Ainda na adolescência, começou a escrever poesia. Em 1782, casa-se com Catherine Sophia Boucher, com quem costumava brincar de Adão & Eva (que maravilha!). Como um bom libertário, que não se prende a convenções que impossibilitam a percepção da vida, ensinou sua esposa a ler e escrever e ambos passam a trabalhar juntos na publicação dos poemas de Blake desde o lançamento da primeira coletânea, Poetical Sketches, de 1783. Ao longo de toda a sua vida, William Blake reclamou sobre a falta de reconhecimento de seu trabalho, mas percebeu logo que não estava só. Escreveu, então, um desabafo: "Até Milton e Shakespeare não puderam publicar seus trabalhos". Notabilizou-se pelos desenhos que fez para ilustrar a Divina Comédia, de Dante, nos quais trabalhou até os últimos dias de vida, que ocorreram em 1827. O essencial, embora invisível, foi vagamente dito. E continuará sendo dito em outras ocasiões mais. Mas quem é mesmo esse tal de Allen Ginsberg que aparece no título dessa postagem? Isso é outra história. Fica para outra ocasião (por Coccinelle).

domingo, 4 de outubro de 2009

Poema Falado - Oração pela Paz

Oração – “Oh Senhor, faze de mim um instrumento da tua paz: / Onde há ódio, faze que eu leve Amor; / Onde há ofensa, faze que eu leve Perdão; / Onde há discórdia, que eu leve União; / Onde há dúvida, que eu leve a Fé; / Onde há erro, que eu leve a Verdade; / Onde há desespero, que eu leve a Esperança; / Onde há tristeza, que eu leve a Alegria; / Onde há trevas, que eu leve a luz. / Oh Mestre, faze que eu procure menos / Ser consolado do que consolar; / Ser compreendido do que compreender; / Ser amado do que amar. / Porquanto é dando que se recebe; / É perdoando que se é perdoado; / É morrendo que se ressuscita para a Vida Eterna” (tradução de Manuel Bandeira).

SÃO FRANCISCO AINDA VIVE ENTRE NÓS - São Francisco de Assis (1181-1226) é venerado em todo o mundo como uma das figuras das quais mais nos orgulhamos. Na sua biografia se tornaram visíveis e possíveis sonhos carregados ao longo de toda a vida e acalentados no fundo de nosso coração: uma relação amorosa e terna com Deus, Pai e Mãe de infinita bondade, um amor simples a todas as coisas, vivenciadas como irmãos e irmãs; uma discreta reconciliação entre os impulsos do coração e as exigências do pensamento, feitos próximos, e dos próximos feitos irmãos; uma aceitação jovial daquilo que não podemos mudar; uma inocente liberdade em face das ordens e regras estabelecidas; uma alegra acolhida da morte como amiga da vida.

São Francisco inundou a esfera humana de espírito de benquerença, fraternura e paz, que continuou a ressoar com o passar dos tempos até nossos dias. Em sua homenagem igrejas, cidades, escolas, rios, instituições e pessoas carregam o nome de São Francisco.

Mais ainda: há comportamentos, símbolos, idéias e sonhos que reportam naturalmente a São Francisco como se ele próprio fosse seu autor. E isso não sem razão, porque ele continua a viver como arquétipo nas mentes e nos corações das pessoas e de muitos movimentos culturais, na não-violência, na fraternidade universal, na jovialidade, no amor aos animais e na ecologia, expressões importantes da busca espiritual da cultura de nossa época.

Existe uma espiritualidade franciscana difusa no espírito de nosso tempo, nascida da experiência de Francisco, de Clara e de seus primeiros companheiros. Trata-se do caminho da simplicidade, da descoberta de Deus na natureza, do amor singelo a todas as criaturas, da confiança quase infantil na bondade das pessoas e na imperturbável alegria, mesmo em face dos dramas mais pungentes da vida humana.

A Oração pela Paz também chamada de Oração de São Francisco constitui uma das cristalizações desta espiritualidade difusa. Ela não provém diretamente da pena do Francisco histórico, mas da espiritualidade do São Francisco da fé. Ele é seu pai espiritual e por isso seu autor no sentido mais profundo e abrangente desta palavra. Sem ele, com certeza, essa Oração pela Paz jamais teria sido formulada nem divulgada e muito menos teria se imposto como uma das orações mais ecumênicas hoje existentes. Ela é rezada por fiéis de todos os credos e por professantes de todos os caminhos espirituais.

Ela tem o condão de unir a todos num mesmo espírito de paz e de amor. Por um momento faz sentir que todos somos de fato irmãos e irmãs na grande família humana e cósmica e também filhos e filhas da família divina.

Vamos aprofundar o teor dessa Oração pela Paz para revelar sua riqueza insuspeitada e para despertar o Francisco e a Clara que dormem dentro de cada um de nós (por Leonardo Boff).

Referências:

BANDEIRA, Manuel. Meus poemas preferidos. São Paulo: Ediouro, 2002.

BOFF, Leonardo. A Oração de São Francisco: uma mensagem de paz para o mundo atual. Rio de Janeiro: Sextante, 1999.

POEMA FALADO – ORAÇÃO DE SÃO FRANCISCO PELA PAZ