domingo, 26 de dezembro de 2010

O Filho de Deus no mundo atual

Para mim, Coccinelle, pouco importa qual a orientação sexual de Jesus Cristo ou quais as suas preferências sexuais. Seu legado de amor e perdão são o que há de mais importante na sua trajetória e é no que, de fato, devemos nos ater. Entretanto, achei o texto abaixo interessante e resolvi traduzi-lo para compartilhar com os que freqüentam esse cantinho. O que achei interessante foi o fato de o texto levantar a idéia de que a imagem de Jesus é, frequentemente, utilizada para os fins mais torpes, de acordo com as convicções que cada um defende. Trata-se de um texto provocativo e reflexivo. Leiam, reflitam, opinem.

Jesus Cristo era gay, sadomasoquista, praticante de zoofilia ou necrófilo? Como eu nunca transei com ele, eu realmente não posso afirmar nada sobre sua orientação sexual. Se você também nunca transou com ele e ele nunca transou com você, assim como eu, você também não pode saber ou afirmar nada sobre a sexualidade do Filho de Deus.

Isso tudo nos remete a uma questão interessante: por que muitos cristãos se aferram com tanta veemência à idéia de que Deus é heterossexual? Eu duvido que esses cristãos tenham tido suas primeiras experiências sexuais com o Filho de Deus para formar essa convicção. Sendo assim, o que os leva ter tanta certeza?

Minha opinião é que isso ocorre pela mesma razão que levou esses mesmos cristãos a afirmarem que Jesus era branco, não portava nenhum tipo de deficiência física e era bem apessoado, certamente magro. Do mesmo modo, afirmam que ele quis dar início a uma religião (igreja), que ele seria um republicano e se oporia ao aborto se, hoje, ele estivesse vivo. Como disse um empresário há alguns anos: “Se Jesus voltasse, hoje ele seria um publicitário”.

Estas suposições nos dizem bem pouco sobre Jesus da Galiléia, mas, de certo, nos dizem muito sobre os valores do cristianismo contemporâneo. Incapazes de enxergar além do seu próprio contexto histórico, os cristãos de hoje projetam seus ideais no seu guru de dois mil anos, do mesmo modo que projetam seus medos na crença do inferno para onde irão todos aqueles que são maus ou não se comportam como determina a ordem vigente. Existem, entretanto, algumas organizações cristãs que tentam promover uma imagem menos heterosexualizada de Cristo, resgatando sua história, há dois milênios controlada pela igreja (Fonte: KERSPLEBEDEB; Tradução: Coccinelle).

domingo, 19 de dezembro de 2010

Cartão de Natal para Marie Noel


Nem a vida de santos me encorajam
a abstinências e jejuns.
Ele, Jesus, perdoa-me,
pois veio aos pecadores,
aos que se escondem em árvores,
ou debaixo de camas feito eu.
Até rainhas, se pretendem respeito,
precisam conhecer o seu fogão.
Conheço mais, conheço fome e culpa.
Meu estômago mói sem trégua,
só não tritura medo,
farinha que já vem pronta.
Mesmo imitando lâmpadas de azeite,
a lâmpada do sacrário é piedosa.
O padre não tem culpa, estudou em Roma
mas vem de família pobre,
julga pecar quando concede à beleza
o trono que lhe é devido.
Provo em desordem as emoções mais turvas.
Estou confusa e ansiosa,
mas de verdade desejo,
com uma ceia copiosa,
Feliz Natal para todos.

(Adélia Prado)

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

O amor, o desejo e a paixão

O amor, o desejo e a paixão são essenciais à vida. Mais que isso. O amor, o desejo e a paixão são imprescindíveis. Mas não me refiro ao amor, ao desejo e à paixão pura e simplesmente. Refiro-me, isto sim, ao amor, ao desejo e à paixão vividos e gozados no escuro das montanhas em noites de orgia, conforme escreveu a Clarice Lispector. Sem amor, sem desejo, sem paixão a vida é um deserto árido, uma solidão sem fim. Amemos, pois! Desejemos mais que tudo! Ardamos nas chamas do amor, do desejo e da paixão até ao pó dissolvermo-nos! Embriaguemo-nos de amor, de desejo e de paixão até o amanhecer! E, assim, desfrutaremos as delícias da voluptuosidade que fazem a vida valer à pena ser vivida (pour Coccinelle).

Portaria do INSS torna definitiva regra que reconhece pensão em união homossexual

A Portaria nº 513 de 09 de dezembro de 2010, publicada na edição do dia 10/12/2010 do Diário Oficial, determina que o Ministério da Previdência torne permanente a regra que reconhece que benefícios previdenciários a dependentes, como pensão por morte, devem incluir parceiros do mesmo sexo em união estável. Diz o texto:

O MINISTRO DE ESTADO DA PREVIDÊNCIA SOCIAL, no uso das atribuições constantes do art. 87, parágrafo único, inciso II, da Constituição, tendo em vista o PARECER nº 038/2009/DENOR/ CGU/AGU, de 26 de abril de 2009, aprovado pelo Despacho do Consultor-Geral da União nº 843/2010, de 12 de maio de 2010, e pelo DESPACHO do Advogado-Geral da União, de 1º de junho de 2010, nos autos do processo nº 00407.006409/2009-11, resolve

Art. 1º Estabelecer que, no âmbito do Regime Geral de Previdência Social - RGPS, os dispositivos da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, que tratam de dependentes para fins previdenciários devem ser interpretados de forma a abranger a união estável entre pessoas do mesmo sexo.

Art. 2º O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS adotará as providências necessárias ao cumprimento do disposto nesta portaria.

Esta decisão do Ministério da Previdência segue recomendação de um parecer divulgado em junho deste ano pela Advocacia Geral da União sobre o assunto, que considerou que a Constituição Federal (CF) não impede a união estável de pessoas do mesmo sexo, por não ser discriminatória. Nesta mesma linha, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) divulgou, também este ano, parecer que reconheceu o direito para fins previdenciários no setor privado. No parecer, foi escrito que as discriminações sofridas por homossexuais não estão de acordo com os princípios constitucionais.

De acordo com o ministro da Previdência Social, Carlos Eduardo Gabas, “o que acontece agora é que muda o fundamento da regra, que passará a ser garantida por instrução normativa. Antes ela era reconhecida por uma liminar, que poderia cair”. Apesar da divulgação da portaria, ainda não há prazo para que o Ministério efetue a mudança na regra. São os ventos da mudança soprando do planalto central para todo o país. Por mais que se esperneie e esbraveje, os ventos não cessam seu movimento (por Coccinelle).

domingo, 5 de dezembro de 2010

Poema Falado: O Menino Jesus

Mais um Natal se aproxima. Mais uma vez votos de prosperidade são desejados aos corações de boa vontade. Entretanto, fico a pensar se pode haver, de fato, prosperidade em meio a tanta ignorância. Não me refiro à ignorância do saber, mas, sim, à ignorância de sabedoria. Explico. Ao se fazer carne e sangue, o Verbo nos ensinou que o amor é o único caminho. Amai-vos uns aos outros, esse foi o legado do Verbo. Mas será que tal legado é vivido por aqueles que se dizem cristãos? Se sim, por que, a despeito de toda a tecnologia e de tanto dinheiro (concentrado nas mãos de poucos é verdade), a fome é, ainda, um flagelo presente na história da humanidade? Arrisco dizer que o desamor nos leva a abandonar seres humanos a tão amarga sorte. O Poema Falado deste mês de dezembro, época em que os cristãos de todo o mundo comemoram o nascimento do Menino Jesus, o Verbo encarnado, propõe uma reflexão. De autoria da extraordinária Adélia Prado, o texto nos diz: “Sofri sozinha este insuportável, / quando me trouxeram o menino / que parecia dizer/ ‘me pega, diz que não sou órfão, / que tenho pai e mãe, / me fala que não sou um usurpador’. / Atracou-se comigo até dormir. / Mesmo rígida, / fui sua cruz mais branda”. Faço votos de que no ano que se aproxima ninguém se sinta um órfão ou um usurpador. Boa vídeo-leitura (por Sílvio Benevides).