domingo, 6 de dezembro de 2009

AIDS, cultura e mulheres

01 de dezembro é o dia escolhido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a data símbolo de combate ao HIV/AIDS. Desde os primeiros casos na década de 1980 até hoje muitos avanços ocorreram e muitas mudanças também. Atualmente, as mulheres estão mais vulneráveis ao contágio do que os homens. Na maioria dos casos por conta dos hábitos e costumes preservados por muitas culturas. Existem ainda, no mundo inteiro, várias práticas e tradições culturais que aumentam o risco de os jovens contrairem HIV/AIDS. Na maior parte das vezes, estas práticas e tradições afetam os jovens mais do que os adultos e o sexo feminino mais do que o masculino.

A situação da mulher

Em muitas sociedades, as mulheres são ensinadas e obrigadas a subordinar seus próprios interesses aos de seus parceiros. Sob tais expectativas, as jovens sentem-se freqüentemente impotentes para se proteger contra a infecção do HIV e contra a gravidez não intencional. Também é comum que as adolescentes sofram coerção e abuso sexual. No Quênia, 40% das estudantes secundárias e sexualmente ativas declararam ter sido forçadas ou enganadas a ter relações sexuais. Muitas vezes, as jovens acabam concordando com o ato sexual por medo de que, se recusarem, serão estupradas de qualquer maneira.

O abuso conjugal das mulheres é muito disseminado. Em alguns países, mais de 40% das mulheres já foram atacadas por seus próprios parceiros. A violência de um sexo contra o outro está intimamente relacionada ao HIV/AIDS. Por exemplo, em Ruanda, as mulheres soropositivas, cujo parceiro é também soropositivo, têm maior probabilidade de informar casos de coerção sexual em seu relacionamento do que as mulheres não soropositivas. Na Tanzânia, a violência perpetrada por parceiros era 10 vezes mais comum entre as mulheres soropositivas do que entre as soronegativas. Muitas mulheres não ousam lembrar aos parceiros a possibilidade do uso de preservativos para a proteção contra o HIV, pois temem sofrer abusos físicos.

Práticas matrimoniais

Em muitas culturas a importância dada à procriação leva geralmente aos casamentos adolescentes e à maternidade precoce. Meninas de pouco mais de 10 anos são oferecidas em casamento a homens mais velhos como forma de solidificar certos relacionamentos e laços econômicos entre famílias.

Quando garotas desta faixa de idade se casam com homens mais velhos, elas ficam mais vulneráveis à infecção do HIV porque seus maridos já tiveram uma série de outras parceiras sexuais. As barreiras sociais, políticas e religiosas geralmente escondem do mundo estas jovens esposas, enquanto seus maridos frequentemente dispõem de outras parceiras sexuais. A poliginia, prática do homem ter várias esposas, é freqüente em alguns países. Na África, quando o marido busca uma nova esposa, geralmente mais jovem, ele provavelmente experimenta várias mulheres sexualmente durante o processo e, assim, arrisca trazer o HIV para seu próprio lar. Em algumas culturas, existe a herança de esposas, uma tradição pela qual uma esposa é oferecida a um cunhado após a morte do marido. Assim, um deles pode estar se expondo ao risco de HIV se o outro estiver infectado. As viúvas mais jovens correm risco especial porque têm maior probabilidade de buscar ou ser buscadas por outros parceiros sexuais.

Em algumas sociedades, o pagamento do dote matrimonial é obrigatório quando um homem se casa. Em certas regiões da África, o homem paga este dote à família da esposa. Depois de selado o casamento com o dote, a mulher é considerada “paga” e, geralmente, não pode nunca abandonar o marido, mesmo que surjam problemas no casamento. Assim, mesmo que o comportamento do marido a coloque sob alto risco de infecção de HIV, a mulher não terá como se proteger.

Ritos de passagem

Os ritos culturais de passagem da infância à idade adulta, apesar de servirem tradicionalmente para unir as comunidades, pode aumentar os riscos de contrair o HIV. Por exemplo, as circuncisões masculinas e femininas são às vezes realizadas usando instrumentos não esterilizados. Os pesquisadores consideram que a circuncisão masculina reduz os riscos de transmissão do HIV ao remover parte do prepúcio, que é particularmente vulnerável ao HIV. Mas, em algumas comunidades, as cerimônias de circuncisão são às vezes acompanhadas de experiências sexuais de iniciação, as quais aumentam os riscos de contrair o HIV. Por exemplo, entre os Maasai da África Oriental, o relacionamento entre amigos é tão forte que, depois da circuncisão, os iniciados compartilham esposas e amantes.

Práticas sexuais

Algumas práticas sexuais tais como o sexo seco – inserção de objetos para secar a vagina ou torná-la mais resistente – pode provocar cortes e abrasões que criam aberturas para a passagem do HIV. Outras práticas, tais como os exames de virgindade de mulheres, tornam a castidade um prêmio tão cobiçado que muitas mulheres não casadas são levadas a praticar somente o coito anal, arriscando-se, assim, muito mais a contrair o HIV/AIDS do que se praticassem o coito vaginal.

FONTE: Population Reports, published by the Population Information Program, Center for Communication Programs, The Johns Hopkins School of Public Health.

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