domingo, 14 de junho de 2009

O medo

Desde crianças ouvimos conselhos que nos ensinam a ter cuidado. Cuidado com o nosso corpo, nossa alimentação, com as nossas palavras, nossos pensamentos, nossos sentimentos e desejos. Passamos a vida a ter cuidado. Mas tanto cuidado acaba abrindo caminho para o medo. Medo de doenças, da velhice, de insetos nojentos, medo do escuro, de nossas palavras, pensamentos, sentimentos, desejos, do diferente, da vida, enfim. São tantos os medos aprendidos e apreendidos ao longo de nossa existência que por vezes esquecemos de viver.

Viver implica em assumir riscos. Riscos que põem em cheque nossas convicções. Convicções que cremos serem verdades absolutas. Se estas são minimamente ameaçadas, grita-se, esperneia-se, foge-se, enclausura-se, mata-se. Nada pode abalar nossas convicções. Se, por exemplo, a morte abala nossa convicção de que somos superiores às baratas e nos dá a certeza do fim, inclusive do fim de toda e qualquer convicção, então, o melhor é fingir que ela não existe, seja silenciando ou acreditando na vida eterna. Se a morte é a angústia de quem vive, como já disse Vinícius de Moraes, crer na vida eterna é o remédio para amenizar essa angústia, que nada mais é do que o medo de descobrirmos que para o universo somos tão importantes quanto as pequeninas baratas. Há quem diga que o medo faz parte da natureza e que sua função é nos salvaguardar. Mas, salvaguardar de quê? (por Coccinelle).

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