domingo, 30 de outubro de 2011

O Tom do Léo

Que vivemos na era dos descartáveis ninguém duvida. Para a lógica capitalista contemporânea nada deve durar mais do que um ou dois verões. Isso vale para produtos de toda natureza. De eletrodomésticos a automóveis, passando por roupas a utensílios de cozinha, tudo é produzido para não durar ou para durar um pouquinho só. Até mesmo os produtos direcionados para o entretenimento, a exemplo de grupos musicais (?!) como o Parangolé, liderado pelo vocalista Léo Santana.

O grupo estourou no verão de 2010 com a música (?!) intitulada Rebolation. Muita gente cantou e rebolou. O verão de 2010 se foi e veio o de 2011 e mais uma vez o Parangolé apareceu com outro estouro do qual não me recordo o nome porque passei o verão desse ano hibernando. Mas tão logo acordei, eu me deparei com um tal de Leite Condensado, vejam só. Convenhamos que por mais que queiramos (se é que queremos mesmo), não dá para desejar vida longa ao rei. Mas isso é outra história, pretexto para chegar onde interessa. O que me chamou a atenção nesse Parangolé verão 2012 que se aproxima certamente não foi o talento artístico da banda, mas, sim, o visual do Léo Santana nas peças publicitárias do grupo. Hum... Sei não... Se não for um revival do Tom of Finland, artista finlandês conhecido pelo fetichismo homoerótico dos seus desenhos, o que é, então? Eis a questão. Mas como eu tenho mais o que fazer, só vendo para crer, vou embora pra Passárgada, porque lá sim eu tenho amigo rei (por Coccinelle).

domingo, 23 de outubro de 2011

Situação-problema que justifica a realização da educação pelo respeito à Diversidade Sexual nas escolas

Estudos publicados nos últimos cinco anos vêm demonstrando e confirmando cada vez mais o quão a homo-lesbo-transfobia (medo ou ódio irracionalmente às pessoas LGBT) permeia a sociedade brasileira e está presente nas escolas. A pesquisa intitulada “Juventudes e Sexualidade”, realizada pela Unesco no ano 2000 e publicada em 2004, foi aplicada em 241 escolas públicas e privadas em 14 capitais brasileiras. Segundo resultados da pesquisa, 39,6% dos estudantes masculinos não gostariam de ter um colega de classe homossexual, 35,2% dos pais não gostariam que seus filhos tivessem um colega de classe homossexual, e 60% dos professores afirmaram não ter conhecimento o suficiente para lidar com a questão da homossexualidade na sala de aula.

O estudo “Revelando Tramas, Descobrindo Segredos: Violência e Convivência nas Escolas”, publicado em 2009 pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana, baseada em uma amostra de 10 mil estudantes e 1.500 professores(as) do Distrito Federal, e apontou que 63,1% dos entrevistados alegaram já ter visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito; mais da metade dos/das professores(as) afirmam já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas; e 44,4% dos meninos e 15% das meninas afirmaram que não gostariam de ter colega homossexual na sala de aula.

A pesquisa “Preconceito e Discriminação no Ambiente Escolar” realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, e também publicada em 2009, baseou-se em uma amostra nacional de 18,5 mil alunos, pais e mães, diretores, professores e funcionários, e revelou que 87,3% dos entrevistados têm preconceito com relação à orientação sexual.

A Fundação Perseu Abramo publicou em 2009 a pesquisa “Diversidade Sexual e Homofobia no Brasil: intolerância e respeito às diferenças sexuais”, que indicou que 92% da população reconheceram que existe preconceito contra LGBT e que 28% reconheceram e declarou o próprio preconceito contra pessoas LGBT, percentual este cinco vezes maior que o preconceito contra negros e idosos, também identificado pela Fundação.

Entre as consequências da homo-lesbo-transfobia na vida adulta, a mais grave sem dúvida é o assassinato desenfreada de pessoas LGBT no Brasil. Através dos meios de comunicação o Grupo Gay da Bahia monitora esse fenômeno, e revelando que de 1980 a 2010, houve 3.446 assassinatos motivados pela orientação sexual ou identidade de gênero das vítimas registrados por esta fonte, uma vez que não são coletados dados oficiais nacionais sobre este tipo de assassinato. A tendência é de aumento, com 260 assassinatos no Brasil no ano de 2010, dando uma média de 0,71 assassinatos por dia.

Essas diversas e conceituadas fontes não deixam dúvidas de que há muito a ser feito para diminuir a homo-lesbo-transfobia, e uma das instituições que mais podem influenciar positivamente nesse processo é a escola. Muito trabalho já vem sendo feito nessa área e é importante destacar as recomendações aprovadas na Conferência Nacional de Educação Básica em relação à diversidade sexual, dentre as quais citamos:


• Evitar discriminações de gênero e diversidade sexual em livros didáticos e paradidáticos utilizados nas escolas;
• Ter programas de formação inicial e continuada em sexualidade e diversidade;
• Promover a cultura do reconhecimento da diversidade de gênero, identidade de gênero e orientação sexual no cotidiano escolar;
• Evitar o uso de linguagem sexista, homofóbica e discriminatória em material didático-pedagógico;
• Inserir os estudos de gênero e diversidade sexual no currículo das licenciaturas.

A Conferência Nacional LGBT (2008) aprovou 561 recomendações para políticas públicas para pessoas LGBT em diversas áreas, as quais foram sistematizadas no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT, lançado em 14 de maio de 2009. O Plano prevê quinze ações a serem executadas pelo Ministério da Educação e é uma importante ferramenta para a promoção da inclusão e do respeito à diversidade nas escolas.

A Conferência Nacional de Educação (2010), no seu Eixo Temático VI, aprovou mais de 20 recomendações relativos a gênero e diversidade sexual.

O Plano Nacional de Educação (aprovado pela Lei nº 10.172 de 9 de janeiro de 2001), no seu diagnóstico do Ensino Fundamental, afirmou que “a exclusão da escola de crianças na idade própria, seja por incúria do poder público, seja por omissão da família e da sociedade, é a forma mais perversa e irremediável de exclusão social, pois nega o direito elementar de cidadania, reproduzindo o círculo da pobreza e da marginalidade e alienando milhões de brasileiros de qualquer perspectiva de futuro”;

O Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos, reitera que “o Estado brasileiro tem como principio a afirmação dos direitos humanos como universais, indivisíveis e interdependentes e, para sua efetivação, todas as políticas públicas devem considerá-los na perspectiva da construção de uma sociedade baseada na promoção da igualdade de oportunidades e da equidade, no respeito à diversidade e na consolidação de uma cultura democrática e cidadã”. As pesquisas citadas nesse texto podem ser consultadas CLICANDO AQUI (Fonte: ABGLT).

domingo, 16 de outubro de 2011

São Paulo lidera denúncias de agressão contra gays, diz estudo.

Dados do Disque 100 revelam que, em 39,2% das ocorrências, vítimas são agredidas por desconhecidos e, também, vizinhos. Estes são os que mais praticam violência contra lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais (LGBT), dentre os casos denunciados ao Disque 100, o Disque Direitos Humanos. A central de atendimento do governo federal foi criada para registrar abusos contra crianças e adolescentes, mas, desde o início do ano, expandiu o serviço para outros grupos, como a população LGBT.

Levantamento da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) – ao qual o Estado teve acesso e que será divulgado na segunda-feira - aponta que, em 39,2% dos episódios de violação relatados contra a população LGBT, o agressor foi um desconhecido; em 22,9%, vizinhos; e em 10,1%, os próprios amigos.

De janeiro a julho, o Disque 100 recebeu 630 denúncias contra a população LGBT. As vítimas concentram-se na faixa etária de 19 a 24 anos (43%) e de 25 a 30 anos (20%). Os casos mais comuns de violência contra gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais são os de violência psicológica (44,38%), como ameaça, hostilização e humilhação, e de discriminação (30,55%). Das vítimas, 83,6% são homossexuais, 10,1%, bissexuais e 4,2%, heterossexuais que sofrem algum tipo de violência ao ser confundidos como gays.

No recorte feito por Estado, São Paulo (18,41%), Bahia (10%), Piauí (8,73%) e Minas Gerais (8,57%) lideram as denúncias – o Rio de Janeiro aparece com apenas 6,03% - por já contar com um serviço semelhante oferecido pelo governo estadual. “Isso demonstra que a violência de caráter homofóbico tem um forte componente cultural, é a mais difícil de ser enfrentada porque é justamente a que não fica comprovada por marcas no corpo”, disse ao Estado a ministra dos Direitos Humanos, Maria do Rosário.

Do total de denúncias recebidas diariamente pelo Disque 100, as que dizem respeito à população LGBT não ultrapassam 1% - um dos motivos do baixo número seria o fato de o módulo de atendimento específico ainda ser pouco conhecido. “Esses números não refletem a realidade do Brasil, que é ainda pior”, afirma Maria do Rosário.

Para o ouvidor Domingos da Silveira, da SDH, os dados do levantamento são reveladores. “Mostram a capilaridade da homofobia, ela vem do interior, das capitais”, diz. “Ela está disseminada e se tornou banal”, completa.

Os casos denunciados ao Disque 100 são ouvidos por uma equipe de teleatendimento e posteriormente encaminhados a órgãos competentes, como o Ministério Público, a Defensoria Pública da União e centros de referência ligados à comunidade LGBT espalhados por todo o País. Em alguns casos, a própria SDH intervém na resolução do conflito. Foi o que ocorreu com um casal de lésbicas, que denunciou o fato de uma das companheiras não ter conseguido incluir a outra no plano de saúde. Após um ofício da SDH ter sido encaminhado ao hospital em contato com o casal, o caso teve uma resolução.

O presidente da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT), Toni Reis, é enfático na defesa dos direitos da população LGBT. “Não queremos cargos no DNIT (o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, que virou foco de corrupção na administração federal recentemente) nem que nos paguem governanta (em referência a um dos escândalos que derrubaram Pedro Novais do Ministério do Turismo), apenas cidadania”, diz. “A homofobia precisa ser criminalizada”, defende Toni Reis (por Rafael Moraes Moura para Estadão.com.br).

domingo, 9 de outubro de 2011

POEMA FALADO: Oração de São Francisco de Assis

No mês de São Francisco de Assis, O cantinho de Coccinelle, por ser um espaço de uma criaturinha alada criada por Deus, também homenageia este que foi, sem dúvida, uma dos maiores homens que a humanidade gerou, o Pobrezinho de Assis. Tal qual Jesus Cristo, o legado de São Francisco é um legado de amor, respeito e paz entre os seres que habitam este planeta, como pode ser visto na sua Oração pela Paz, que traz em seus versos uma mensagem cunhada na era medieval, mas cada vez mais urgente e necessária no mundo contemporâneo. Eis o texto: “Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz. Onde houver ódio, que eu leve o amor. Onde houver ofensa, que eu leve o perdão. Onde houver discórdia, que eu leve a união. Onde houver dúvida, que eu leve a fé. Onde houver erro, que eu leve a verdade. Onde houver desespero, que eu leve a esperança. Onde houver tristeza, que eu leve a alegria. Onde houver trevas, que eu leve a luz. Ó Mestre, fazei que eu procure mais consolar, que ser consolado; compreender, que ser compreendido; amar, que ser amado, pois, é dando que se recebe, é perdoando que se é perdoado, e é morrendo que se vive para a vida eterna”. Boa audio-leitura na voz do Chico Anysio!





domingo, 2 de outubro de 2011

Tempestade em copo d’água ou sexismo?

A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) da Presidência da República enviou na terça-feira 27/09 um ofício ao Conselho Nacional de Auto-regulamentação Publicitária (Conar) pedindo a suspensão de uma campanha da Hope, fabricante de lingerie, estrelada pela super-hiper-mega top model brasileira Gisele Bündchen.

Os vídeos da campanha (vide abaixo), intitulada “Hope Ensina”, mostram a exuberante modelo contando ao marido que bateu o carro dele, que estourou o limite dos cartões de crédito de ambos e, também, avisando ele que sua mãe irá morar com o casal. No início, Gisele revela os problemas ao marido da maneira errada, isto é, vestida com roupa. Na seqüência, apenas de lingerie, ou seja, da maneira correta. Por fim, a Hope incentiva as brasileiras a utilizarem seu charme para, assim, fazer a coisa certa. A SPM não achou graça e pediu que o anúncio fosse retirado do ar por entender que a publicidade “reforça o estereótipo das mulheres como objetos sexuais”.

O comunicado da secretaria acrescenta, ainda, que os vídeos “promovem o estereótipo errado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora grandes avanços que alcançamos para desmontar práticas e pensamentos sexistas”. A Hope, por meio de nota oficial, se explicou dizendo que “os exemplos nunca tiveram a intenção de parecer sexistas, mas, sim, cotidianos de um casal. Bater o carro, extrapolar nas compras ou ter que receber uma nova pessoa em sua casa por tempo indeterminado são fatos desagradáveis que podem acontecer na vida de qualquer casal, seja o agente da ação homem ou mulher”.

O fato, obviamente, gerou reações de todos os lados. Há quem defenda a postura da SPM, como o blogueiro Eduardo Guimarães, alegando que “a campanha estimula a mulher a conseguir o que quer dos homens, sobretudo em termos financeiros, através da sensualidade, ou seja, do sexo. Estimula garotas a conseguirem para si o “coronel” que tantas buscam, hoje em dia. Algum coroa gordão e endinheirado, talvez”, escreveu. E acrescenta: “Não criei minhas filhas para isso. Eu e a minha mulher as ensinamos a não dependerem de homem nenhum, a jamais se fiarem nos intensos poderes de sedução que as mulheres conservam só enquanto são jovens e possuem atributos físicos que se enquadram no padrão de beleza vigente. E a sempre levarem em conta que os padrões de beleza femininos mudaram muito através dos tempos”. Outros, porém, regiram indignados, alegando que o comunicado da SPM é mal-humorado, que a sociedade brasileira está perdendo o bom humor, que não se pode mais brincar ou fazer piadas sobre nada sem gerar reações que beiram a paranóia e que a SPM deveria cobrar dos governos federal, estaduais e municipais, e não da publicidade, políticas públicas de proteção e valorização da mulher brasileira.

Eu, Coccinelle, acho esta campanha ridícula e estúpida, como, aliás, costumam ser os publicitários de uma maneira geral. Tanto é assim que seus criadores tiveram que chamar um nome de peso para estrelá-la. Não fosse a presença da magnífica Gisele Bündchen certamente a Hope não teria nenhuma esperança de emplacar esta campanha. Entretanto, não sei se censurar é a melhor saída. Esta, também, me parece ser uma solução um tanto estúpida. O que fazer, então? Está lançado o debate (pour Coccinelle).