A bióloga Marlene Zuk, que pesquisou a homossexualidade entre os animais, diz que classificar o comportamento de ‘anormal’ é uma precipitação. Presente em diversas espécies na natureza, ele pode ter vantagens evolutivas.
Uma lei que vigorava desde 1861 e que foi derrubada na quinta-feira (2) pela Justiça de Nova Déli, a capital da Índia, previa multas e prisão de até dez anos para os gays e lésbicas. A justificativa expressa no código penal indiano era de que o comportamento homossexual é “um atentado contra a natureza”. Os juízes indianos consideraram que a proibição era uma violação dos “direitos fundamentais” e, após 148 anos, alteraram a legislação.
Esse tipo de argumento – de que o sexo com indivíduos do mesmo gênero não é natural –, muito usado no século 19, é recorrente até os dias de hoje e permeia o debate do tema em vários países. As observações científicas, no entanto, demonstram que o argumento não tem base, já que são vários os exemplos de animais que mantêm relações sexuais e até mesmo de parceria com indivíduos do mesmo gênero.
Os biólogos Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, publicaram no mês passado um estudo que é uma revisão de várias outras pesquisas sobre o tema. O trabalho, publicado no periódico Trends in Ecology and Evolution (Tendências em Ecologias e Evolução), reforça que o sexo homossexual é muito comum no mundo animal e é motivado por diferentes razões, como a falta de um parceiro do outro sexo, a necessidade de formar alianças, praticar e reforçar a hierarquia, por engano e até para criar um filhote.
Nesta entrevista a ÉPOCA, a professora Marlene Zuk fala sobre a pesquisa e diz que, na discussão sobre a homossexualidade, a sociedade foi apressada demais ao classificar o sexo entre pessoas do mesmo gênero de “anormal”.
Uma lei que vigorava desde 1861 e que foi derrubada na quinta-feira (2) pela Justiça de Nova Déli, a capital da Índia, previa multas e prisão de até dez anos para os gays e lésbicas. A justificativa expressa no código penal indiano era de que o comportamento homossexual é “um atentado contra a natureza”. Os juízes indianos consideraram que a proibição era uma violação dos “direitos fundamentais” e, após 148 anos, alteraram a legislação.
Esse tipo de argumento – de que o sexo com indivíduos do mesmo gênero não é natural –, muito usado no século 19, é recorrente até os dias de hoje e permeia o debate do tema em vários países. As observações científicas, no entanto, demonstram que o argumento não tem base, já que são vários os exemplos de animais que mantêm relações sexuais e até mesmo de parceria com indivíduos do mesmo gênero.
Os biólogos Nathan Bailey e Marlene Zuk, da Universidade da Califórnia em Riverside, publicaram no mês passado um estudo que é uma revisão de várias outras pesquisas sobre o tema. O trabalho, publicado no periódico Trends in Ecology and Evolution (Tendências em Ecologias e Evolução), reforça que o sexo homossexual é muito comum no mundo animal e é motivado por diferentes razões, como a falta de um parceiro do outro sexo, a necessidade de formar alianças, praticar e reforçar a hierarquia, por engano e até para criar um filhote.
Nesta entrevista a ÉPOCA, a professora Marlene Zuk fala sobre a pesquisa e diz que, na discussão sobre a homossexualidade, a sociedade foi apressada demais ao classificar o sexo entre pessoas do mesmo gênero de “anormal”.
ÉPOCA – Qual foi a conclusão do estudo sobre sexo entre animais do mesmo gênero?
Marlene Zuk – Percebemos que o sexo homossexual entre animais é extremamente comum e extremamente variável; muitos animais têm interações desse tipo, e elas vão desde um casal duradouro de albatrozes fêmeas até o rápido cortejo entre dois machos de mosquitos de frutas.
ÉPOCA – O sexo homossexual entre animais tem algum papel na evolução?
Marlene – Sim, pois esse comportamento pode permitir aos animais passar seus genes para frente mesmo que não estejam participando de um acasalamento heterossexual.
Marlene – Sim, pois esse comportamento pode permitir aos animais passar seus genes para frente mesmo que não estejam participando de um acasalamento heterossexual.
ÉPOCA – Você pode dar alguns exemplos?
Marlene – Há alguns besouros que forçam relações com outros machos. Há evidências de que o esperma depositado pode acabar sendo transferido para as fêmeas quando esse macho for acasalar, passando para frente assim os genes do primeiro macho. Um outro caso é o de algumas populações de albatrozes que observamos no Havaí nas quais há mais fêmeas do que machos. Nessas circunstâncias, duas delas podem se juntar e cooperar na criação de um filhote e, algumas vezes, têm mais sucesso do que os casais heterossexuais. Isso pode influenciar o funcionamento da população e alterar suas características, passando o gene da albatroz fêmea homossexual para frente.
Marlene – Há alguns besouros que forçam relações com outros machos. Há evidências de que o esperma depositado pode acabar sendo transferido para as fêmeas quando esse macho for acasalar, passando para frente assim os genes do primeiro macho. Um outro caso é o de algumas populações de albatrozes que observamos no Havaí nas quais há mais fêmeas do que machos. Nessas circunstâncias, duas delas podem se juntar e cooperar na criação de um filhote e, algumas vezes, têm mais sucesso do que os casais heterossexuais. Isso pode influenciar o funcionamento da população e alterar suas características, passando o gene da albatroz fêmea homossexual para frente.
ÉPOCA – E há alguma vantagem evolucionária de se relacionar apenas com animais do mesmo sexo?
Marlene – Há custos e benefícios para todos os comportamentos, incluindo aqueles entre seres do mesmo sexo. As pessoas talvez tenham sido muito precipitadas ao classificar o comportamento homossexual como aberração ou anormal. Ele ocorre sob algumas circunstâncias, mas não em outras, mas esse é o padrão de muitos outros comportamentos.
Marlene – Há custos e benefícios para todos os comportamentos, incluindo aqueles entre seres do mesmo sexo. As pessoas talvez tenham sido muito precipitadas ao classificar o comportamento homossexual como aberração ou anormal. Ele ocorre sob algumas circunstâncias, mas não em outras, mas esse é o padrão de muitos outros comportamentos.
ÉPOCA – Isso vale tanto para o comportamento dos humanos quanto dos animais?
Marlene – Sim, há uma longa história de chamar a homossexualidade humana de anormal e até de caracterizá-la como um distúrbio psiquiátrico. Mesmo no caso dos animais, as pessoas tentam achar uma “desculpa” para o comportamento, dizendo que é resultado do cativeiro, ou que representa algum tipo de patologia. Mas cada vez mais estamos descobrindo que as experiências homossexuais são parte da vida animal.
Marlene – Sim, há uma longa história de chamar a homossexualidade humana de anormal e até de caracterizá-la como um distúrbio psiquiátrico. Mesmo no caso dos animais, as pessoas tentam achar uma “desculpa” para o comportamento, dizendo que é resultado do cativeiro, ou que representa algum tipo de patologia. Mas cada vez mais estamos descobrindo que as experiências homossexuais são parte da vida animal.
ÉPOCA – O que motiva o sexo homossexual entre os animais?
Marlene – Isso ocorre por razões muito diferentes em animais diferentes. Em moscas de fruta, por exemplo, os machos cortejam outros machos porque um gene que os faz distinguir machos de fêmeas está alterado. Mas nos bonobos o sexo é usado socialmente, como uma forma de resolver tensões entre alguns indivíduos.
Marlene – Isso ocorre por razões muito diferentes em animais diferentes. Em moscas de fruta, por exemplo, os machos cortejam outros machos porque um gene que os faz distinguir machos de fêmeas está alterado. Mas nos bonobos o sexo é usado socialmente, como uma forma de resolver tensões entre alguns indivíduos.
ÉPOCA – É possível comparar o comportamento homossexual entre os humanos e os animais?
Marlene – Sim e não. Sim porque, como outros animais, os humanos têm várias formas de passar seus genes para frente, tanto diretamente – tendo filhos – quanto indiretamente, fazendo alguma coisa para favorecer seu sobrinhos ou netos, por exemplo. Mas, por outro lado, não é possível comparar porque os outros animais não apresentam parcerias entre dois machos ou duas fêmeas para a vida toda, a não ser que tenham acasalado com o sexo oposto, como no caso do albatroz.
Marlene – Sim e não. Sim porque, como outros animais, os humanos têm várias formas de passar seus genes para frente, tanto diretamente – tendo filhos – quanto indiretamente, fazendo alguma coisa para favorecer seu sobrinhos ou netos, por exemplo. Mas, por outro lado, não é possível comparar porque os outros animais não apresentam parcerias entre dois machos ou duas fêmeas para a vida toda, a não ser que tenham acasalado com o sexo oposto, como no caso do albatroz.
ÉPOCA – Como você vê a ideia de que ser gay é genético? Do ponto de vista da ciência, isso é possível?
Marlene – A maior parte dos biólogos acredita que todos os comportamentos, seja um relativamente simples como o jeito que a pessoa anda, até os extremamente complexos, como a orientação sexual, têm origem na combinação dos genes e do ambiente. Assim, a procura pelo “gene gay” é simplificada demais, assim como a ideia de que vamos encontrar uma fonte social para isso (Fonte: Revista Época).
Marlene – A maior parte dos biólogos acredita que todos os comportamentos, seja um relativamente simples como o jeito que a pessoa anda, até os extremamente complexos, como a orientação sexual, têm origem na combinação dos genes e do ambiente. Assim, a procura pelo “gene gay” é simplificada demais, assim como a ideia de que vamos encontrar uma fonte social para isso (Fonte: Revista Época).
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