terça-feira, 21 de julho de 2009

Esperando os bárbaros – Konstantinos Kaváfis

Por que não acorrem como sempre nossos ilustres oradores
a brindar-nos com o jorro feliz de sua eloqüência?
Porque hoje chegam os bárbaros
que odeiam a retórica e os longos discursos.

Por que de repente essa inquietude
e movimento? (Quanta Gravidade nos rostos!)
Por que esvazia a multidão ruas e praças
e sombria regressa a suas moradas?

Porque a noite cai e não chegam os bárbaros
e gente vinda da fronteira
afirma que já não há bárbaros.

E o que será agora de nós sem bárbaros?
Talvez eles fossem uma solução afinal de contas.
*
KONSTANTINOS KAVÁFIS (Κωνσταντίνος Πέτρου Καβάφης) nasceu em Alexandria em 1863 e faleceu em 29 de abril de 1933, dia do seu aniversário, na mesma cidade. Pertencera a uma importante família burguesa de origem grega e passado aristocrático. Consta que sua mãe, ansiando por ter uma filha, criou-o como uma menina durante algum tempo. Muitos tentam explicar a origem da reconhecida homossexualidade do poeta através desse fato. Em 1870, após a morte pai, a mãe viaja com ele para a Inglaterra, onde vivem em Londres e depois em Liverpool. Em 1882 tentam retornar para Alexandria, mas, devido a intervenção armada britânica no Egito, refugiam-se em Constantinopla. Finalmente, em 1885 voltam a Alexandria, onde o poeta viverá até a morte, embora, ocasionalmente, tenha feito viagens à Inglaterra, França e Grécia. Morou com a mãe enquanto ela viveu. Tornou-se funcionário do Ministério da Irrigação. A partir de 1907, com a morte ou imigração dos irmãos, viveu praticamente só. Kaváfis tornou-se um dos poetas mais importantes de Alexandria, escrevendo em sua língua materna, o grego. Em vida publicou muito pouco: duas plaquetas em 1904 e 1910, uma com 14 e a outra com 21 poemas, e poemas esparsos, em folhas soltas, que enviava a quem os pedia. Assim mesmo seu prestígio literário foi grande e imediato, ao ponto do governo grego lhe conceder o prêmio Fênix. Em sua poesia renunciou à métrica tradicional; combinava o moderno e o arcaico, e elementos helenísticos com bizantinos. Criou uma expressão própria e peculiar, marcada pelo que os críticos chamaram de um lirismo objetivo, por tons dramáticos e uma tonalidade trágica. Dizia-se um poeta historiador. Morreu em 29 de abril de 1933, no dia de seu aniversário. Em 1935 sua obra ganhou uma edição completa, e a partir daí foi traduzida para várias línguas, entre elas o português. A edição mais abrangente de suas obras no Brasil é a da tradução de José Paulo Paes, publicada em 1982 (por Flávio Aguiar).

BELEZA É TAMBÉM MULTIPLICAR OS DONS

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