domingo, 1 de fevereiro de 2009

Saudades

Pour mon cher ami que je n’ai jamais connu

Quero falar da saudade que bate dentro de mim, uma saudade imensa. Saudade de tempos que não vivi, de lugares onde jamais estive, de coisas que nunca possuí, de pessoas que em momento algum conheci. Pouco tenho de meu. A não ser as canções que não ouvi, as lembranças que estão fora de mim, os livros cujas páginas jamais li, os sonhos que nunca sonhei, os amores que não amei. Tenho em mim tantas saudades. Tantas saudades que nem sei...

Às margens do Tejo sobrevoei paisagens magníficas. Por entre velhos sobrados de paredes multicoloridas buscava juntar meus retalhos, sanar minhas feridas. Foi durante esse voltear que avistei nos arredores de um castelo, no alto de uma montanha, um solitário girassol tão belo quanto o próprio sol numa manhã de janeiro. O amarelo de suas pétalas resplandecia em minhas retinas de modo tão alucinante que eu cria, de fato, sermos apenas uma alma plena e não duas vazias. Encantei-me. Quis chegar mais perto dos seus segredos, mas a distância entre nós era mais longa que a dor de uma saudade a beira do cais. Ademais, tenho asas pequeninas e os ventos não cessavam o seu soprar. E de tanto soprarem, pude ouvir a viração anunciar sua sentença: os sinos negros repicam nas praias do Atlântico norte; de certo na vida temos apenas a morte. Meu peito emudeceu. Cantar de nada adiantaria. Só me restou, então, lamentar. E como lamentei! Não era justo que um belo e resplandecente girassol se voltasse contra o sol. Julguei ser a vida uma obra mal escrita. Tantas são as tramas, mas sempre o mesmo e único fim. Nada restou daquela beleza infinda. Nem mesmo o pó. Quis chorar, mas não pude, pois eu bem sabia que cumprida sua missão nesta terra, o mais belo dos girassóis adormeceu suavemente para encontrar a suprema quietude que ardentemente desejava. Sua morte não foi coberta de luto e tristeza. Foi antes de tudo o amor divino, que adornado de luz e alegria, veio envolver seu corpo antes que sofresse as injúrias da corrupção. Pensar assim me conforta e atenua a saudade que em mim por vezes brota. Por isso lhe dedico esta melodia para que a ouças onde quer que estejas (por Coccinelle).

3 comentários:

vivi disse...

Rsrs... Lindo!!!... Mas não havia ainda pensado na saudade de algo que não vivi... de lugares q não conheci... Não sei pra mim, a saudade estava sempre vinculada a sentimentos, pessoas e lugares que já vivi... É vou re-pensar esse meu conceito rsrs...
Sabe... Essa dona aí... A alguns anos atrás, foi uma companheira diária...Me fez sofre bastante. Por estar longe das pessoas que amo. Hoje nem tanto, acho que aprendi a conviver com ela.
Mas... não a vejo como algo negativo...Pois mesmo com a falta que por muitas vezes ficava difícil de esconder... Eu sabia, que ao senti-la é porque... Sentimentos, pessoas e lugares... estavam em mim agregados... e por eles já passei e vivi...
E você mais uma vez linda joaninha me fez pensar... e ver que posso pensar na saudade também das coisas que ainda estou por viver...
Gracias!!!
Beijus... e um ótimo final de semana prá ti ... e para todas...

Coccinelle disse...

Ah, Vivi, você é um encanto!!! Adoro seus comentários, sempre tão doces e cheios de viço!!! Também não penso na saudade como algo negativo, afinal, só sentimos saudades de pessoas, coisas, lugares, etc., que nos fizerem, de alguma maneira, felizes, ainda que por alguns instantes. Talvez daí venha a "saudade de coisas que não vivi" porque sei que se eu as vivesse, seria muito feliz. Mas as vezes também, saudade é nostalgia. Sinto isso de vez em quando. Não sei de onde ela vem e nem por quê. Só sei que ela chega devagar e se instala. Essa sensação talvez tenha alguma relação com vidas passadas, não sei...Só sei que é assim. Não deixe de frequentar esse meu cantinho, viu. Gosto muito de saber a sua opinião sobre as coisas que escrevo. Gracias por estar sempre aqui deixando seu recado. Um beijão para você e uma semana maravilhosa!!!!!

Juliano Ortiz disse...

Realmente lindo, parabêns... Chorei só de ler, pois se encaixa muito bem na minha vida neste exato momento.