segunda-feira, 1 de junho de 2009

O retrato da intolerância

Há 109 anos morria de meningite em Paris aos 46 anos Oscar Wilde, escritor irlandês conhecido por sua brilhante oratória e, sobretudo, por seu talento literário.

Wilde, nascido em Dublin aos 16 de outubro de 1854, escreveu poemas, contos de fada como O Príncipe Feliz (1888), dedicado aos dois filhos, Cyril e Vyvyan, que teve com a bela Constance Lloyd, várias peças de teatro, a exemplo de Salomé (1891), O leque de Lady Windermere (1892), Uma mulher sem importância (1893), A importância de ser prudente (1895), Um marido ideal (1895), entre outras obras. Escreveu também o livro O retrato de Dorian Gray (1891), seu único romance.

O espírito aguçadamente irônico e mordaz de Oscar Wilde era bastante conhecido nos círculos literários e nos ricos salões londrinos. Suas pilhérias geralmente tinham como alvo o modo de vida preconceituoso e hipócrita da alta sociedade britânica, marcada por valores excessivamente utilitaristas e materialistas. Seu brilhantismo, objeto de admiração e temor, se fez conhecer ainda nos tempos em que estudava no Magdalen College de Oxford, onde permaneceu até 1879. Nessa época ele abraçou com entusiasmo os ideais estetas tão difundidos na universidade de Oxford. Por conta da sua habilidade retórica e seu poder de persuasão, foi convidado a fazer uma série de conferências sobre a doutrina esteticista nos Estados Unidos. Em 1882 aportou em Nova Iorque. Quando perguntado se tinha algo a declarar, respondeu: "Nada, além da minha genialidade". Ao final das conferências feitas em outras cinquenta cidades, acabou por conquistar o respeito e a admiração do público norte-americano.

Entre os anos de 1891 e 1895, as peças escritas por Wilde alcançaram enorme sucesso de público e crítica. Nesse mesmo período ele viveria um intenso relacionamento amoroso com o jovem aristocrata Lord Alfred Douglas, descrito por André Gide, amigo de Wilde, como uma pessoa "cínica, egoísta e terrível". Por causa dessa relação, Wilde passou a ser perseguido pelo pai do Lord Douglas, o Marquês de Queensberry, que o chamava de "sodomita" e o via como um "pervertido e corruptor".

Para livrar-se da perseguição que vinha sofrendo e, ao mesmo tempo, querendo atender aos caprichos do seu jovem amante, Wilde, a despeito dos inúmeros conselhos dos amigos, resolveu processar o marquês por injúria. Queensberry, em contrapartida, denunciou Wilde à Justiça por causa da sua homossexualidade, comportamento considerado criminoso na Inglaterra vitoriana. Após três julgamentos, Wilde foi condenado, em maio de 1895, a dois anos de prisão com trabalhos forçados. Em sua defesa disse à promotoria:

"O amor que não ousa dizer seu nome neste século é uma afeição tão grande entre um homem mais velho e um mais jovem como era entre Davi e Jônatas, da maneira como Platão o tornou a verdadeira base da sua filosofia, e da maneira como é encontrado nos sonetos de Michelângelo e Shakespeare...por conta disso, estou onde me encontro agora. É bonito, delicado. É a mais nobre forma de afeição. Não há nada de antinatural nele. É algo intelectual e existe repetidas vezes entre um homem mais velho e um mais jovem, quando o mais velho tem o intelecto, e o mais jovem toda a alegria, esperança e encanto da vida diante de si".

A sentença da Justiça Britânica fez Oscar Wilde conhecer de perto o inferno. Na prisão recebeu um tratamento desumano que o levou a um estado de profunda apatia. Em 1897, após ser libertado, partiu para a França com a saúde bastante debilitada. Já era um homem arruinado tanto moral quanto financeiramente. Seu nome fora proibido de ser estampado nos cartazes das suas peças, que em pouco tempo foram retiradas de cartaz. Sua esposa e filhos foram obrigados a mudar da Inglaterra e adotar o sobrenome Holland, ao invés de Wilde, para evitar constrangimentos e humilhações.
Abandonado por quase todos os amigos, inclusive pelo Lord Douglas, Oscar Wilde deixou para sempre a Grã-Bretanha, onde seu nome se tornou sinônimo de abjeção e vício, e suas idéias consideradas amorais, sobretudo porque eram antiutilitaristas. No dia 30 de novembro de 1900, morreu esquecido no modesto Hôtel d'Alsace, nas proximidades do Sena, vitimado, principalmente, pela intolerância dos seus contemporâneos (por Coccinelle).
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OSCAR WILDE EM ANIMAÇÃO
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A animação abaixo magnificamente produzida e executada resume de forma brilhante e bela a vida e a obra do Oscar Wilde. Vale a pena conferir.
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