domingo, 24 de maio de 2009

O mais belo dentre os imortais

As primeiras narrativas sobre Eros, mostram-no como um jovem belo e grave que concede grandes dádivas aos homens. Essa idéia que os antigos gregos faziam de Eros foi muito bem sintetizada por Platão: “O Amor – Eros – faz sua morada nos corações humanos, mas não em todos, pois se afasta sempre que ali percebe dureza. Sua maior glória está em sua incapacidade de fazer o mal, e de não permitir que ninguém o faça; a força nunca dele se aproxima, pois todos os homens o servem por sua livre vontade. E aquele que não foi tocado pelo Amor caminha na escuridão”.

Apesar da reverência, Platão não considerava Eros o deus do Amor, mas sim uma entidade intermediária entre os deuses e os homens, isto é, um elo de união entre o universo e o indivíduo. Para Platão, Eros é fruto da união entre Póros (Expediente) e Penía (Pobreza). Sua concepção aconteceu durante um banquete realizado no Jardim dos Deuses por ocasião do nascimento de Afrodite. Por conta dessa filiação, Eros vive a buscar o objeto que satisfará sua carência. Para isso, lança mão de expedientes a fim de alcançar seu objetivo, ou seja, a plenitude. Desse modo, antes se ser um deus poderoso, Eros, na acepção platônica, é uma energia eternamente insatisfeita e inquieta, ou, de acordo com
Junito de Souza Brandão
(Mitologia Grega – volume 1 – Editora Vozes), “uma carência sempre em busca de uma plenitude, um sujeito em busca do objeto”.

Para os contemporâneos de Platão, no entanto, Eros era a divindade do Amor. Amante de Psique, conquistou a inimizade dos homens por causa dos enredos amorosos que provocava. Entre os antigos romanos Eros passou a ser conhecido como Cupido. Na teogonia de Hesíodo, Eros era “aquele que é o Amor, o mais belo entre os imortais, que tira a força dos membros; aquele que em todos os deuses, em todos os mortais, sobrepuja a inteligência em seus peitos e retalha todos os seus planos”.

Para muitos, Eros se originou do Caos primitivo. Para outros, era associado a Afrodite como seu filho, tendo como pai o deus Ariés. Na mitologia grega, Afrodite era a deusa da beleza, da fertilidade e do Amor, não representanto apenas o amor sexual, mas também a afeição que sustenta (ou deveria sustentar) a vida social.

As primeiras representações artísticas de Eros não passam de simples pedras em estado quase bruto. Com o passar do tempo, Eros passa a ser representado por um belo jovem alado de traços pueris, normalmente despido, portando arco e flechas. Eventualmente aparece como um garoto brincalhão, lançando suas flechas em deuses e humanos, como demonstra uma das Odes atribuída ao poeta grego Anacreonte:

Um dia, lá pela meia-noite,
Quando a Ursa se deita nos braços do Boieiro,
E a raça dos mortais, toda ela, jaz, domada pelo sono,
Foi que Eros apareceu e bateu à minha porta.
"Quem bate à minha porta, e rasga meus sonhos"?
Respondeu Eros: "Abre", ordenou ele.
“Eu sou uma criancinha, não tenhas medo. Estou encharcado, errante, numa noite sem lu”.

Ouvindo-o, tive pena.
De imediato, acendendo o candeeiro,
Abri a porta e vi um garotinho:
Tinha um arco, asas e uma aljava.
Coloquei-o junto ao fogo
E suas mãos nas minhas.
Aqueci-o, espremendo a água úmida que lhe escorria dos cabelos.
Eros, depois que se libertou do frio,
"Vamos", disse ele,
"Experimentemos este arco, vejamos se a corda molhada não sofreu prejuízo".
Retesa o arco e fere-me no fígado,
Bem no meio, como se fora um aguilhão.
Depois, começa a saltar, às gargalhadas:
"Hospedeiro", acrescentou.
"Alegra-te. Meu arco está inteiro, teu coração, porém, ficará partido".


Diz-se que os deuses costumam conceder graças especiais aos amantes cuja coragem é inspirada pelo Amor. Por isso eles permitiram que Alceste retornasse do mundo dos mortos já que ela teve a coragem de morrer por amor ao seu marido. Da mesma maneira Aquiles foi agraciado e enviado para a Ilha do Abençoado porque colocou seu amor por Pátroclo acima de qualquer coisa. Mas os deuses não concederam a Orfeu graça igual. Quando este resolveu trazer sua esposa de volta à vida, entrou vivo no mundo dos mortos. Os deuses entenderam que ele não estava disposto a morrer por ela, então o ignoraram. Por tudo isso se diz que não há nenhuma espécie de coragem mais respeitada pelos deuses que aquela advinda do Amor.

Eros é o Amor que enfraquece os homens e também os deuses, dominando-lhes a mente e o espírito. É muito poderoso, pois resulta de uma combinação de forças que movimentam e regem o Universo. Desde que Eros surgiu, a libido passou a orientar a existência dos seres, trazendo todo tipo de benesses aos deuses e também aos homens. Há dois tipos de Amor. Um diz respeito ao corpo, outro diz respeito a alma. Ambos nos impele, através da libido, a nos realizarmos na ação, uma vez que é o Amor que, segundo
Junito de Souza Brandão (Mitologia Grega – volume 1 – Editora Vozes), atualiza as potencialidades do ser. Entretanto, a realização de nossas potencialidades somente ocorre mediante o contato com o outro, seja por meio de trocas materiais, espirituais ou sensíveis. Tais trocas, diz o referido autor, fatalmente provocam choques ou comoções de forças diferentes e contrárias que são integradas por Eros numa mesma unidade. Por tudo isso o Amor – Eros – é digno de celebração, uma vez que empresta ritmo e harmonia a nossas vidas, proporcionando-nos prazer e alegria (por Papillon e Coccinelle).

Um comentário:

Papillon disse...

Cocci, então você anda mesmo vasculhando textos antigos!!Hummmmm...
Passa o tempo e quando reencontramos um filho sempre lembramos. Posso lembrar o que foi meu e o que foi seu...Essa época estava estudando mitologia e sempre tinha um pedido sobre esse assunto....Isso me faz lembrar que posso voltar a estudar mitologia....
Obrigada!
Bjs.
P.S. Tá chegando o dia da liberdade onde vamos comemorar...claro que só a dupla dinâmica sem convidados....Os convidados deixaremos para o dia da defesa...Lembra que nosso encontro será 1 de Junho e vamos aproveitar e comemorar tudo de vez, oK? É já vai fazer um ano!!