“Viver e não ter a vergonha de ser feliz”, ou melhor, viver e não ter a vergonha de ser, simplesmente. Esses versos da música do Gonzaguinha parecem ser bastante apropriados para definir uma das personalidades mais fascinantes do Brasil, Leila Diniz. A sua revolução não foi aprisionada por amarras teóricas ou conceituais, foi, isto sim, vivida intensamente, fazendo dela uma mulher libertária. Talvez por isso seu comportamento e suas idéias escandalizassem tanto a conservadora sociedade brasileira dos anos 60.
Leila Roque Diniz nasceu no dia 25 de março de 1945, em Niterói, estado do Rio de Janeiro. Ainda adolescente saiu de casa e passou a viver com o cineasta Domingos de Oliveira. Chegou a trabalhar como professora primária até o início de sua carreira artística, na peça O PREÇO DE UM HOMEM, a convite de Cacilda Becker (1964). No ano seguinte, estrearia no cinema, em O MUNDO ALEGRE DE HELÔ. Nesse período, separou-se de Domingos de Oliveira e passou a viver sozinha.
Em 1966, ganhou notoriedade com TODAS AS MULHERES DO MUNDO, filme autobiográfico de Domingos de Oliveira sobre o casamento dos dois. Junto ao ator Paulo José, apareceu nua e esplendidamente bonita, vivendo a história de um amor que se transformava em amizade. Sua espontaneidade e brilho ao representar praticamente a si mesma transformaram-na em modelo de mulher livre para boa parcela das classes média e alta. O filme conquistou o público e recebeu sete prêmios no Festival de Brasília. A partir de então Leila passou a trabalhar intensamente. Em 1968 filmou EDU, CORAÇÃO DE OURO, FOME DE AMOR, O HOMEM NU e A MADONA DE CEDRO. Além de filmes, atuou em várias telenovelas, entre as quais O SHEIK DE AGADIR e O ALIENISTA. Em 1969, estrelou TEM BANANA NA BANDA, espetáculo de teatro que se notabilizou por ter revitalizado o gênero de revista.
Foi também em 1969, quando o Brasil chafurdava no lamaçal de fardas da ditadura, que Leila Diniz provocou uma enorme polêmica no país. Em entrevista ao periódico alternativo Pasquim deu a primeira entrevista sobre intimidades da história do jornal, comprovando que de fato ela era a manifestante despudorada do prazer e uma das revolucionárias mais eficientes de uma época em que tabus e ideologias conservadoras foi amplamente questionadas. “Não gosto de convenções. Não tenho preconceitos. Não faço regimes”, dizia. No auge da repressão política no Brasil, ela pregou a liberdade feminina e o amor livre e em momento algum posou de moça recatada. “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”, revelou.
Suas declarações e idéias fizeram o jornal vender como nunca e a referida entrevista acabou entrando para a história não só pelas opiniões da entrevistada, mas por haver motivado a lei de censura prévia, apelidada de Decreto Leila Diniz, produzida pelo então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, cujo pretexto para justificar o seu ato foi o monte de palavrões que ela proferira ao longo da entrevista, apesar dos editores tê-los substituídos por 72 asteriscos. Em conseqüência, seu contrato com a Rede Globo não foi renovado e a ditadura passou a fazer pressão para que não mais a contratassem.
Entre 1970 e 1971, Leila Diniz conheceu o diretor Ruy Guerra, com o qual teve uma filha de nome Janaína. Apesar da paixão que os unia, cada qual continuou vivendo em sua própria casa. Em 1971, grávida de seis meses, escandalizou mais uma vez a sociedade brasileira ao aparecer de biquíni na praia de Ipanema. Suas fotos, com a barriga exposta e o rosto sorridente, de imediato tiveram ampla divulgação na imprensa. Afinal, o povo nunca tinha visto aquilo. O ineditismo incômodo do seu gesto levou-a a ser acusada por feministas de servir aos homens. Num contexto histórico de polarizações ideológicas, Leila Diniz era considerada artificial pela esquerda, enquanto a direita a acusava de imoral. Outro motivo de escândalo foi a atriz ter dado de mamar à filha, Janaína, no intervalo do espetáculo de teatro de revista que estrelava, VEM DE RÉ QUE VOU DE PRIMEIRA. No ano seguinte, o talento de Leila foi reconhecido no exterior: ela ganhou o prêmio de melhor atriz do Festival de Adelaide, na Austrália, com o filme MÃOS VAZIAS. Na viagem de volta ao Brasil, seu avião explodiu a 30 km de Nova Déli, na Índia. Ela morreu em 14 de julho de 1972, aos 27 anos, com nove de carreira e 14 filmes. Quem ficou de mãos vazias foi a rebeldia nacional.
Hoje em dia, uma grávida na praia, de biquíni, é coisa normal. Mulher nua na tela do cinema não espanta ninguém e, muito menos, alguém liga se ela fala palavrões ou dá de mamar em público. Mas, na década de 60, a sociedade era bem diferente. Se houve alguém que abriu caminho para que todos esses comportamentos – à época, escandalosos – se tornassem cotidianos, foi Leila Diniz, com a força do próprio exemplo. Ainda que, no auge da radicalização política, não fizesse apologia ao movimento feminista, ou carregasse qualquer bandeira. “Não morreria por nada deste mundo, porque eu gosto realmente é de viver. Nem de amores, eu morreria, porque eu gosto mesmo é de viver de amores” (Revista Fatos e Fotos – fevereiro de 1968).
Ao contrário, ela nunca deu a entender que desejava convencer ou converter alguém. Se, depois de sua morte, os movimentos feministas acabaram por transforma-la num símbolo da emancipação da mulher, foi porque suas atitudes sempre refletiram a convicção de que todo mundo tinha o direito de viver como quisesse. Ser careta, liberado, intelectual, casar virgem era uma questão de opção individual e particular.
Como escreveu Ruy Castro em ELA É CARIOCA: UMA ENCICLOPÉDIA DE IPANEMA (Companhia das Letras, 1999): “Leila se deixou julgar por um país inteiro para que ninguém mais julgasse ninguém”. A leveza com a qual encarava a vida não deixa de despertar uma ponta de inveja, o que me leva a dizer, parafraseando a Rita Lee, que todos nós, mulheres e homens, somos meio Leila Diniz, ao menos desejamos ser (por Coccinelle).
Em 1966, ganhou notoriedade com TODAS AS MULHERES DO MUNDO, filme autobiográfico de Domingos de Oliveira sobre o casamento dos dois. Junto ao ator Paulo José, apareceu nua e esplendidamente bonita, vivendo a história de um amor que se transformava em amizade. Sua espontaneidade e brilho ao representar praticamente a si mesma transformaram-na em modelo de mulher livre para boa parcela das classes média e alta. O filme conquistou o público e recebeu sete prêmios no Festival de Brasília. A partir de então Leila passou a trabalhar intensamente. Em 1968 filmou EDU, CORAÇÃO DE OURO, FOME DE AMOR, O HOMEM NU e A MADONA DE CEDRO. Além de filmes, atuou em várias telenovelas, entre as quais O SHEIK DE AGADIR e O ALIENISTA. Em 1969, estrelou TEM BANANA NA BANDA, espetáculo de teatro que se notabilizou por ter revitalizado o gênero de revista.
Foi também em 1969, quando o Brasil chafurdava no lamaçal de fardas da ditadura, que Leila Diniz provocou uma enorme polêmica no país. Em entrevista ao periódico alternativo Pasquim deu a primeira entrevista sobre intimidades da história do jornal, comprovando que de fato ela era a manifestante despudorada do prazer e uma das revolucionárias mais eficientes de uma época em que tabus e ideologias conservadoras foi amplamente questionadas. “Não gosto de convenções. Não tenho preconceitos. Não faço regimes”, dizia. No auge da repressão política no Brasil, ela pregou a liberdade feminina e o amor livre e em momento algum posou de moça recatada. “Você pode amar muito uma pessoa e ir para a cama com outra. Já aconteceu comigo”, revelou.
Suas declarações e idéias fizeram o jornal vender como nunca e a referida entrevista acabou entrando para a história não só pelas opiniões da entrevistada, mas por haver motivado a lei de censura prévia, apelidada de Decreto Leila Diniz, produzida pelo então ministro da Justiça, Alfredo Buzaid, cujo pretexto para justificar o seu ato foi o monte de palavrões que ela proferira ao longo da entrevista, apesar dos editores tê-los substituídos por 72 asteriscos. Em conseqüência, seu contrato com a Rede Globo não foi renovado e a ditadura passou a fazer pressão para que não mais a contratassem.
Entre 1970 e 1971, Leila Diniz conheceu o diretor Ruy Guerra, com o qual teve uma filha de nome Janaína. Apesar da paixão que os unia, cada qual continuou vivendo em sua própria casa. Em 1971, grávida de seis meses, escandalizou mais uma vez a sociedade brasileira ao aparecer de biquíni na praia de Ipanema. Suas fotos, com a barriga exposta e o rosto sorridente, de imediato tiveram ampla divulgação na imprensa. Afinal, o povo nunca tinha visto aquilo. O ineditismo incômodo do seu gesto levou-a a ser acusada por feministas de servir aos homens. Num contexto histórico de polarizações ideológicas, Leila Diniz era considerada artificial pela esquerda, enquanto a direita a acusava de imoral. Outro motivo de escândalo foi a atriz ter dado de mamar à filha, Janaína, no intervalo do espetáculo de teatro de revista que estrelava, VEM DE RÉ QUE VOU DE PRIMEIRA. No ano seguinte, o talento de Leila foi reconhecido no exterior: ela ganhou o prêmio de melhor atriz do Festival de Adelaide, na Austrália, com o filme MÃOS VAZIAS. Na viagem de volta ao Brasil, seu avião explodiu a 30 km de Nova Déli, na Índia. Ela morreu em 14 de julho de 1972, aos 27 anos, com nove de carreira e 14 filmes. Quem ficou de mãos vazias foi a rebeldia nacional.
Hoje em dia, uma grávida na praia, de biquíni, é coisa normal. Mulher nua na tela do cinema não espanta ninguém e, muito menos, alguém liga se ela fala palavrões ou dá de mamar em público. Mas, na década de 60, a sociedade era bem diferente. Se houve alguém que abriu caminho para que todos esses comportamentos – à época, escandalosos – se tornassem cotidianos, foi Leila Diniz, com a força do próprio exemplo. Ainda que, no auge da radicalização política, não fizesse apologia ao movimento feminista, ou carregasse qualquer bandeira. “Não morreria por nada deste mundo, porque eu gosto realmente é de viver. Nem de amores, eu morreria, porque eu gosto mesmo é de viver de amores” (Revista Fatos e Fotos – fevereiro de 1968).
Ao contrário, ela nunca deu a entender que desejava convencer ou converter alguém. Se, depois de sua morte, os movimentos feministas acabaram por transforma-la num símbolo da emancipação da mulher, foi porque suas atitudes sempre refletiram a convicção de que todo mundo tinha o direito de viver como quisesse. Ser careta, liberado, intelectual, casar virgem era uma questão de opção individual e particular.
Como escreveu Ruy Castro em ELA É CARIOCA: UMA ENCICLOPÉDIA DE IPANEMA (Companhia das Letras, 1999): “Leila se deixou julgar por um país inteiro para que ninguém mais julgasse ninguém”. A leveza com a qual encarava a vida não deixa de despertar uma ponta de inveja, o que me leva a dizer, parafraseando a Rita Lee, que todos nós, mulheres e homens, somos meio Leila Diniz, ao menos desejamos ser (por Coccinelle).
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