
Há algo de podre no reino de William Shakespeare – podre talvez seja uma expressão um pouco exagerada. O fato é que na próxima semana, durante um encontro de shakespearianos em Londres, a escritora Robin Williams apresentará uma tese insólita – o bardo de Stratford era uma mulher. Quem? Mary Herbert, née Mary Sidney, a Condessa de Pembroke. Amante das artes, exímia tradutora, freqüentadora da corte de Elizabeth I, ela morreu em 1621 com fama de sumidade. Houve, claro, um William – mas ele teria sido testa-de-ferro de Mary. Se William foi Mary, como indica o polêmico estudo, isso explicaria o fato dos sonetos de amor de Shakespeare serem dedicados a um efebo. Explica, também, a dedicatória da primeira coleção de peças de teatro, para os condes de Pembroke e Montgomery, seus filhos. Tome-se a suposição como certeza para alimentar uma questão: saber que Shakeaspeare era ela, e não ele, muda alguma coisa no interesse por uma das marcas mais valiosas da história? As edições de Romeu e Julieta venderão menos por sabermos que a tragédia foi criada por mãos femininas? “Não altera nada do que ele escreveu, o que importa é a obra, que atravessou tempos e lugares”, diz Aimara da Cunha Rezende, uma das grandes especialistas brasileiras na obra do gênio inglês, presidente do Centro de Estudos Shakespeareanos do Brasil. Mas não há dúvida: a revelação acrescenta fermento numa figura lendária, tratado em tom quase religioso por seus adeptos.
Perceberam como ocorre a negação? Diz o Fábio Altman: “Se William foi Mary, como indica o polêmico estudo, isso explicaria o fato dos sonetos de amor de Shakespeare serem dedicados a um efebo”. Ora, ora, por que o William Shakespeare, sendo um homem, não poderia ter dedicado sonetos de amor a um efebo? Por qual razão é difícil aceitar que um dos maiores escritores da humanidade e da cultura ocidental era homossexual? Simples: HOMOFOBIA!
No tempo do Shakespeare as mulheres eram consideradas seres menores, inferiores aos homens. Consequentemente, tudo que viessem a produzir, sobretudo no campo das artes e das idéias, era considerado (quando considerado) algo menor, sem importância alguma. Sendo assim, produtores e editores se recusavam a publicar obras assinadas por mulheres. Daí muitas terem utilizado pseudônimos masculinos ou supostos testas-de-ferro, conforme foi dito na matéria do Fábio Altman. O que acabo de dizer não é novidade alguma. Evidentemente que o famoso William Shakespeare poderia ter sido um desses testas-de-ferro. A hipótese da pesquisadora/escritora Robin Williams é perfeitamente plausível. O que não é plausível é afirmar que o Sir William Shakespeare só poderia ter escrito sonetos de amor para rapazes se ele fosse, não um homem, mas, sim, uma mulher. Se isso não for homofobia, sem dúvida, é uma grande estupidez, afinal, somente uma mente tola ou doentia pode duvidar que homens sejam capazes de escrever cartas e/ou poemas de amor, ou até mesmo livros e peças teatrais inteiras, para outros homens (por Coccinelle).
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