O texto abaixo não é de minha autoria. Quem conhece esse cantinho sabe muito bem que eu, Coccinelle, não publico apenas textos meus, mas, também, textos de outros que admiro e que enxergam o mundo de uma maneira semelhante à minha. A autoria do texto abaixo é da Vange Leonel, cantora, compositora e escritora que admiro muito, não apenas porque compôs NOITE PRETA, o hit de abertura da telenovela global Vamp (que eu adorava e não perdia um só capítulo), mas, sobretudo, por conta dos artigos que publicava na antiga e inesquecível revista SUI GENERIS. Sempre me identifiquei com os escritos dessa mulher inspiradora, seja pelo conteúdo em si, informativo e libertário, seja pela maneira simples e direta que ela utiliza para se comunicar com seus leitores/interlocutores (essa primeira parte do post é de minha autoria).
Renato Russo, Cássia Eller e Cazuza foram raros exemplos de artistas que assumiram, em vida e publicamente, sua homossexualidade. Ney Matogrosso, João Silvério Trevisan, Aguinaldo Silva, o jogador de vôlei Lilico, Leão Lobo, Edson Cordeiro e esta humilde escriba são pessoas com alguma visibilidade na mídia que não escondem sua preferência pelo mesmo sexo.
Há cada vez mais gente assumindo sua homossexualidade para o público, e embora alguns achem tratar-se apenas de sem-vergonhice e exibicionismo, não é: dizemos em alto e bom som que somos gays porque não queremos viver à sombra. Se há homossexuais que não querem fazer alarde de sua condição, há outros, como os citados acima, que não vêem (ou não viram) razão para ocultar suas preferências.
Afinal, heterossexuais podem sair à rua de mãos dadas com seus pares e chegam a festas apresentando-os como “meu namorado” ou “minha mulher”. Ora, por que teríamos que fazer diferente? Só porque gostamos de pessoas do mesmo sexo deveríamos varrer nossos namorados para baixo do tapete?
Não é fácil. Conseguimos maior visibilidade e conquistamos alguma proteção da lei, mas o senso comum ainda acha que, mesmo tendo o direito de existir e respirar, é melhor que fiquemos em nossos cantos, de preferência sob a sombra e abrigados pelo véu da noite, quando os gatos são pardos e as crianças dormem.
Isso me lembra uma declaração que li, meses atrás, de um sujeito empenhado em criar um roteiro turístico sobre Santos Dumont. Imaginando-se paladino do patrimônio nacional, ele disse que, inicialmente, precisaria “limpar” a imagem do aviador e desabafou: “Só no Brasil acontece isso! A coisa mais absurda é ferir a imagem de uma figura de extrema importância mundial com o fato de ele ser ou não homossexual”.
Fiquei pasma. Absurdo é achar que a possibilidade de Santos Dumont ter sido homossexual possa ferir sua imagem. Depois, sujeitos assim ainda vêm dizer que não são preconceituosos e até têm amigos gays – bem trancados no armário, claro!
(por Vange Leonel – Revista da Folha 02/02/2003)
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NOITE PRETA – a música
Música de Vange Leonel e Cilmara Bedaque. Direção do clip: Cilmara Bedaque e Luiz Ferré.
VAMP – a novela
Abertura da telenovela da Rede Globo, escrita por Antônio Calmon e dirigida por Jorge Fernando. Exibida no horário das 19:00h, entre julho de 1991 e fevereiro de 1992, a trama tinha como principais protagonistas a bela e exuberante Cláudia Ohana e o maravilhoso Ney Latorraca. Sucesso retumbante de audiência, especialmente entre crianças e adolescentes.
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