De acordo com o dicionário, a palavra bárbaro se origina do latim barbàrus, que se refere a um estrangeiro, isto é, um indivíduo não identificado com os costumes do observador. Par os antigos gregos, bárbaros eram aqueles que pertenciam a outra raça ou civilização e falava outra língua que não a deles. No Império Romano, o termo adquiriu outro significado, passando a designar que ou quem é incivilizado, rude, grosseiro. Os chamados povos bárbaros, principalmente, os Hunos e os Germânicos, promoveram sucessivas invasões ao Império Romano do Oriente e do Ocidente o que, por sua vez, desencadeou mudanças irreversíveis no curso da história ocidental. Os bárbaros são assim, inquietos, rebeldes. E essa rebeldia é extremamente saudável, pois ela é o motor que impulsiona as mudanças. Ao longo da história humana existiram vários bárbaros. Nas décadas de 1960 e 1970 eles foram tão numerosos que por todo o mundo ajudaram a derrubar ditaduras políticas, regimes conservadores, costumes, práticas e idéias opressivas, pregaram a paz, oxigenaram o mundo e a vida em sociedade com seus ideais de liberdade e suas utopias maravilhosas. Hoje em dia, porém, o tilintar dos metais preciosos e seus valores perniciosos parecem ter silenciado as utopias. Onde foi parar a rebeldia? Por onde andam os bárbaros? O mundo precisa dos bárbaros como escreveu o poeta grego nascido em Alexandria, Konstantinos Kaváfis, que o Poema Falado deste mês homenageia. Diz ele: “Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos? / É que os bárbaros hoje vão chegar! / Mas porque reina no Senado tanta apatia? / Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores? / É que os bárbaros hoje vão chegar. / Que leis hão-de fazer os senadores? / Os bárbaros que vêm, que as façam eles. // Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador, / E se sentou na magna porta da cidade à espera, / Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça? / É que os bárbaros hoje vão chegar. / O nosso imperador espera receber / O chefe. E certamente preparou / Um pergaminho para lhe dar, onde / Inscreveu vários títulos e nomes. // Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores / trouxeram hoje à rua as togas vermelhas bordadas? / E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas, / e porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes, / por que razão empunham hoje bastões preciosos / com tão finos ornatos de ouro e prata cravejados? / É que os bárbaros hoje vão chegar. / E tais coisas os deixam deslumbrados. // Por que não acorrem como sempre nossos ilustres oradores / a brindar-nos com o jorro feliz de sua eloqüência? / Porque hoje chegam os bárbaros / que odeiam a retórica e os longos discursos. // Por que de repente essa inquietude / e movimento? (Quanta Gravidade nos rostos!) / Por que esvazia a multidão ruas e praças / e sombria regressa a suas moradas? // Porque a noite cai e não chegam os bárbaros / e gente vinda da fronteira / afirma que já não há bárbaros. // E o que será agora de nós sem bárbaros? / Talvez eles fossem uma solução afinal de contas”. Boa áudio-leitua! (por Sílvio Benevides)
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