Demonstrações de comportamento homossexual estão presentes no reino animal e tem funções diversas de acordo com a espécie. “A atividade homossexual pode ser uma maneira de reduzir conflitos sociais entre indivíduos do mesmo grupo, de fortalecer as escalas de dominância e de criar alianças”, diz o professor de Psicologia, diretor do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e um dos principais pesquisadores de etologia (o estudo do comportamento animal) no Brasil, Cesar Ades. Para o pesquisador, a homossexualidade pode ser até considerado útil aos animais. “Porém, é importante ressaltar que tais comportamentos são muito variados e não podem ser entendidos, como um todo, como idênticos à homossexualidade no ser humano, que se insere numa realidade sócio-cultural complexa. Mas podem indicar a generalidade de certos processos de atração entre indivíduos do mesmo sexo”, explica.
No caso da formação de casais homossexuais no mundo animal, foram documentados comportamentos típicos da formação de vínculos, da corte sexual e do cuidado parental. “Em muitos casos, é possível mostrar que estes comportamentos são bastante semelhantes aos que são vistos quando há a formação de pares heterossexuais. Estas formas de cortejo e vínculo entre indivíduos do mesmo sexo têm sido descritas num número alto de espécies, e o biólogo Bruce Bagemihl estima em 500 o número das espécies em que tenha sido comprovada a existência de comportamentos homossexuais”, diz Ades, que lista entre elas lagartos, gansos, golfinhos e até moscas. “Os comportamentos podem variar até dentro da mesma espécie. Representam uma realidade biológica que está começando a receber atenção e a ser compreendida”, falou.
Segundo o pesquisador, a motivação do comportamento homossexual nem sempre é clara. Ele conta que, no seu laboratório, foi verificado que fêmeas de porquinho-da-índia às vezes têm comportamentos de corte idênticos aos dos machos. “Se aproximam de outra fêmea, exibem a dança da corte, que se chama ‘rumba’, e emitem um som grave de corte, que se chama ‘purr’. Qual o sentido desta corte fêmea-fêmea? Ela obviamente não é reprodutiva, mas pode ter um sentido social. Pode ser uma forma de regular as relações entre as fêmeas, mostrando em que grau uma delas é dominante em relação às outras”, pondera Ades. O professor da USP também cita as moscas fêmeas que se cortejam, tendo monta como forma de aumentar a produção de feromônios que atraem os machos. “Os gansos, além de cortejar uma fêmea e de com ela criar uma aliança monogâmica que dura por toda a vida, são capazes de executar os comportamentos de associação sexual com machos e manterem um vínculo duradouro. Estas observações chamam a atenção à ideia de que, mesmo no ser humano, o comportamento sexual não é apenas reprodutivo, e que ele possui significados sociais, de sedução, de controle e de regulação social”, diz.
“Sempre úteis” – Mas se a homossexualidade efetua papéis diversos, seria este um comportamento útil para os animais? “De um ponto de vista biológico, a resposta é sim. Um comportamento não surge ao acaso, numa espécie. Se aparece, é porque deve desempenhar uma função, mesmo que não seja reprodutiva”, afirma o especialista, que diz acreditar que os comportamentos homossexuais não têm necessariamente a mesma função em diferentes espécies. “Para saber a função que têm, e esse é um problema fascinante, vale a pena estudar cada espécie em seus relacionamentos sociais, em suas estratégias reprodutivas, para entender o papel da atração e do vínculo entre indivíduos do mesmo sexo. Em suma, os comportamentos homossexuais são sempre úteis, de uma forma ou de outra, entre as espécies animais”, falou Ades.
Conforme relato do professor, uma das espécies que mais surpreendeu pela frequência de seu comportamento homossexual é a dos bonobos, uma espécie de chimpanzé. Nos bonobos, fêmeas podem esfregar a região genital uma na outra, obtendo visível gratificação. “Este comportamento pode ter a função de reduzir conflitos sociais. Se dois bonobos se interessam por algo no ambiente, ao mesmo tempo, podem exibir comportamento sexual um em relação ao outro como maneira provável de ‘agradar’ e de diminuir a probabilidade de conflito”, explica.
Na opinião de Ades, pesquisas neste campo serão importantes para mudar o entendimento geral sobre a sexualidade nas diferentes espécies. “Com a descrição e análise do comportamento homossexual, abre-se para a pesquisa etológica e evolucionista um campo muito interessante de investigação, que certamente vai modificar nossas teorias sobre o comportamento social e sobre o comportamento sexual em geral, humano em particular”, conclui (por Angela Joenck Pinto para o Terra).
No caso da formação de casais homossexuais no mundo animal, foram documentados comportamentos típicos da formação de vínculos, da corte sexual e do cuidado parental. “Em muitos casos, é possível mostrar que estes comportamentos são bastante semelhantes aos que são vistos quando há a formação de pares heterossexuais. Estas formas de cortejo e vínculo entre indivíduos do mesmo sexo têm sido descritas num número alto de espécies, e o biólogo Bruce Bagemihl estima em 500 o número das espécies em que tenha sido comprovada a existência de comportamentos homossexuais”, diz Ades, que lista entre elas lagartos, gansos, golfinhos e até moscas. “Os comportamentos podem variar até dentro da mesma espécie. Representam uma realidade biológica que está começando a receber atenção e a ser compreendida”, falou.
Segundo o pesquisador, a motivação do comportamento homossexual nem sempre é clara. Ele conta que, no seu laboratório, foi verificado que fêmeas de porquinho-da-índia às vezes têm comportamentos de corte idênticos aos dos machos. “Se aproximam de outra fêmea, exibem a dança da corte, que se chama ‘rumba’, e emitem um som grave de corte, que se chama ‘purr’. Qual o sentido desta corte fêmea-fêmea? Ela obviamente não é reprodutiva, mas pode ter um sentido social. Pode ser uma forma de regular as relações entre as fêmeas, mostrando em que grau uma delas é dominante em relação às outras”, pondera Ades. O professor da USP também cita as moscas fêmeas que se cortejam, tendo monta como forma de aumentar a produção de feromônios que atraem os machos. “Os gansos, além de cortejar uma fêmea e de com ela criar uma aliança monogâmica que dura por toda a vida, são capazes de executar os comportamentos de associação sexual com machos e manterem um vínculo duradouro. Estas observações chamam a atenção à ideia de que, mesmo no ser humano, o comportamento sexual não é apenas reprodutivo, e que ele possui significados sociais, de sedução, de controle e de regulação social”, diz.
“Sempre úteis” – Mas se a homossexualidade efetua papéis diversos, seria este um comportamento útil para os animais? “De um ponto de vista biológico, a resposta é sim. Um comportamento não surge ao acaso, numa espécie. Se aparece, é porque deve desempenhar uma função, mesmo que não seja reprodutiva”, afirma o especialista, que diz acreditar que os comportamentos homossexuais não têm necessariamente a mesma função em diferentes espécies. “Para saber a função que têm, e esse é um problema fascinante, vale a pena estudar cada espécie em seus relacionamentos sociais, em suas estratégias reprodutivas, para entender o papel da atração e do vínculo entre indivíduos do mesmo sexo. Em suma, os comportamentos homossexuais são sempre úteis, de uma forma ou de outra, entre as espécies animais”, falou Ades.
Conforme relato do professor, uma das espécies que mais surpreendeu pela frequência de seu comportamento homossexual é a dos bonobos, uma espécie de chimpanzé. Nos bonobos, fêmeas podem esfregar a região genital uma na outra, obtendo visível gratificação. “Este comportamento pode ter a função de reduzir conflitos sociais. Se dois bonobos se interessam por algo no ambiente, ao mesmo tempo, podem exibir comportamento sexual um em relação ao outro como maneira provável de ‘agradar’ e de diminuir a probabilidade de conflito”, explica.
Na opinião de Ades, pesquisas neste campo serão importantes para mudar o entendimento geral sobre a sexualidade nas diferentes espécies. “Com a descrição e análise do comportamento homossexual, abre-se para a pesquisa etológica e evolucionista um campo muito interessante de investigação, que certamente vai modificar nossas teorias sobre o comportamento social e sobre o comportamento sexual em geral, humano em particular”, conclui (por Angela Joenck Pinto para o Terra).
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