Semana passada falei sobre o caralho do Gregório de Matos, quero dizer, sobre o poema do Gregório de Matos que discorre sobre o caralho. Pois bem, essa semana volto ao mesmo assunto. Não sobre o caralho, que, como vimos, é coisa antiga, mas sobre o poeta Gregório de Matos. Toda sua obra refletiu o espírito de uma época. Estou a falar do século XVII. De um lado ventos que sopravam modernidades como, por exemplo, o mercantilismo (embrião do capitalismo), a ascensão da burguesia, a Reforma Protestante, o conhecimento científico desafiando o conhecimento religioso, as novas concepções políticas e ideológicas, que colocavam o homem, e não mais Deus, no centro da existência humana, etc.; de outro, as forças conservadoras do chamado “antigo regime” resistindo às novidades introduzidas pela chamada Era Moderna. Na arte, o duelo entre as forças da Modernidade e as forças do Antigo Regime se apresentou através de expressões estéticas como o Barroco, profundamente marcado por dualismos do tipo CÉU X INFERNO, BELO X FEIO, PECADO X VIRTUDE, ESPÍRITO X MATÉRIA, DEUS X DIABO, entre outras.
A obra poética do Gregório de Matos “apresenta duas vertentes: uma satírica (pela qual é mais conhecido) que, não raro, apresenta aspectos eróticos e pornográficos; outra lírica, de fundo religioso e moral. Ao contrário de Vieira, Gregório não se envolveu com questões magnas, afetas à condução da política em curso: não lhe interessavam os índios, mas as mulatas; não o aborreciam os holandeses, mas os portugueses; não cultivou a política, mas a boêmia; não "fixou a sintaxe vernácula", mas engordou o léxico; não transitou pelas cortes européias, mas vagabundeou pelo Recôncavo. É uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas duma língua européia recém-transplantada para os trópicos. Ridicularizando políticos e religiosos, zombando da empáfia dos mulatos, assediando freiras e mulatas, ou manejando um vocabulário acessível e popular, o poeta baiano abrasileirou o barroco importado: seus versos são um espelho fiel de um país que se formava. Finalmente, o que muitos não devem saber é que Gregório também é considerado antecedente do nosso cancioneiro, pois fazia "versos à lira", apoiando-se em violas de arame para compor solfas e lundus. O lundu, criado nas ruas, tinha ritmo agitado e sincopado, e melodia simples com resquícios modais, sendo basicamente negro. Do lundu vieram o chorinho, o samba, o baião, as marchinhas e os gêneros de caráter ritmado e irreverente” (Consultar Fonte na íntegra).
Assim foi o Gregório de Matos, um poeta dividido entre a aurora de uma nova era e o ocaso de uma outra. No Brasil, além do Gregório de Matos, são nomes de grande expressão do Barroco nacional o Padre Antônio Vieira e os artistas plásticos Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manoel da Costa Athayde.
*
SONETO
(Gregório de Matos)
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c'os demais, que só, sisudo.
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A obra poética do Gregório de Matos “apresenta duas vertentes: uma satírica (pela qual é mais conhecido) que, não raro, apresenta aspectos eróticos e pornográficos; outra lírica, de fundo religioso e moral. Ao contrário de Vieira, Gregório não se envolveu com questões magnas, afetas à condução da política em curso: não lhe interessavam os índios, mas as mulatas; não o aborreciam os holandeses, mas os portugueses; não cultivou a política, mas a boêmia; não "fixou a sintaxe vernácula", mas engordou o léxico; não transitou pelas cortes européias, mas vagabundeou pelo Recôncavo. É uma espécie de poeta maldito, sempre ágil na provocação, mas nem por isso indiferente à paixão humana ou religiosa, à natureza, à reflexão e, dado importante, às virtualidades poéticas duma língua européia recém-transplantada para os trópicos. Ridicularizando políticos e religiosos, zombando da empáfia dos mulatos, assediando freiras e mulatas, ou manejando um vocabulário acessível e popular, o poeta baiano abrasileirou o barroco importado: seus versos são um espelho fiel de um país que se formava. Finalmente, o que muitos não devem saber é que Gregório também é considerado antecedente do nosso cancioneiro, pois fazia "versos à lira", apoiando-se em violas de arame para compor solfas e lundus. O lundu, criado nas ruas, tinha ritmo agitado e sincopado, e melodia simples com resquícios modais, sendo basicamente negro. Do lundu vieram o chorinho, o samba, o baião, as marchinhas e os gêneros de caráter ritmado e irreverente” (Consultar Fonte na íntegra).
Assim foi o Gregório de Matos, um poeta dividido entre a aurora de uma nova era e o ocaso de uma outra. No Brasil, além do Gregório de Matos, são nomes de grande expressão do Barroco nacional o Padre Antônio Vieira e os artistas plásticos Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho, e Manoel da Costa Athayde.
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SONETO
(Gregório de Matos)
Carregado de mim ando no mundo,
E o grande peso embarga-me as passadas,
Que como ando por vias desusadas,
Faço o peso crescer, e vou-me ao fundo.
O remédio será seguir o imundo
Caminho, onde dos mais vejo as pisadas,
Que as bestas andam juntas mais ousadas,
Do que anda só o engenho mais profundo.
Não é fácil viver entre os insanos,
Erra, quem presumir que sabe tudo,
Se o atalho não soube dos seus danos.
O prudente varão há de ser mudo,
Que é melhor neste mundo, mar de enganos,
Ser louco c'os demais, que só, sisudo.
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Veja o poema acima sendo dito por um ator. É POEMA FALADO também aqui, viu Papillon?
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2 comentários:
Cocci,
Estou adorando ser conduzida a este Gregorio...pelas bandas de cá, cercada pelas montanhas de Minas, o sagrado e o profano se misturam. Aqueles que se preparam para o carnaval, sao os mesmos que carregam andores na Semana Santa, assistem à missa aos domingos, com seus “jeolhos” sempre à mostra... do lado da rua Direita, local nobre, a rua das Flores.. com suas paredes de meia, onde as mulheres de vida fácil (pode?!...) vivem...
habituèe destes mesmos lugares, as mesmas pessoas...
Oi, Aline! Que bom revê-la nesse nosso cantinho. O Brasil é mesmo assim, digamos, um mistério! Pelas bandas da Bahia essas coisas também acontecem, é só ver as festas populares. As pessoas vão pedir proteção ao Senhor do Bonfim no dia de sua festa e logo depois descem a colina pra se acabar na folia. E se acabam mesmo, pode crer! Antes eu achava que tudo isso era hipocrisia, mas hoje penso que é o nosso jeito de ser. Não quero dizer que não existem os hipócritas de plantão, porém, acho que não é o caso da maioria. É que nós brasileiros não olhamos o mundo apenas como isso ou aquilo simplesmente. Entre o isso ou aquilo sempre existe algo mais que nos permite caminhar entre o sagrado e o profano com uma certa desenvoltura. Não tem jeito, nosso espírito é barrco por natureza. Um abraço forte e volte sempre!!!
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