domingo, 28 de fevereiro de 2010

Os socialistas, gays e lésbicas

De forma simples, mas contundente, Tony Cliff (1917-2000), fundador do Socialist Workers Party britânico, discute por que os socialistas devem apoiar as lutas dos gays e a necessidade de unir todos os oprimidos. Este é um texto que foi publicado em número 593 do jornal Socialist Worker, no ano de 1978.

Em sociedades de classe há opressores e oprimidos em todos os níveis da sociedade. O patrão oprime o empregado, o homem oprime a mulher, o branco oprime o negro, o velho oprime o jovem, o heterossexual oprime o homossexual. O verdadeiro socialista deve ser capaz de superar todas essas divisões. Um metalúrgico que só consegue se identificar com um outro metalúrgico pode ser um bom sindicalista, mas não é ainda um socialista. Um socialista deve ser capaz de identificar-se com as lutas de todos os grupos oprimidos.

Somos todos filhos e filhas do capitalismo, e por isso tendemos a conceber o futuro – mesmo o futuro socialista – de um modo ordenado e hierarquizado. Algumas pessoas imaginam que o futuro dirigente da revolução socialista será necessariamente um metalúrgico, provavelmente de uma grande montadora de automóveis. Em seguida, viria um líder dos camponeses pobres e sem terras. E os lugares-tenente da revolução seriam todos ativistas sindicais brancos em seus quarenta anos. E se houver lugar será permitido aos negros, mulheres, gays e lésbicas tomarem parte – desde que, é claro, fiquem bem quietinhos e não causem problemas! Muitos socialistas ainda não crêem sequer que gays e lésbicas irão participar da revolução. Pelo contrário, nós devemos olhar para o futuro imaginando que a principal figura da revolução será uma mulher, negra, lésbica em seus 19 anos de idade!

O sistema governa dividindo-nos. Isso significa que não existe um caminho natural pelo qual um grupo oprimido se identifique com um outro. Os racistas mais radicais nos estados sulistas dos Estados Unidos são os brancos pobres – não os mais ricos. Do mesmo modo os negros não apóiam automaticamente as lutas das mulheres, e o mesmo ocorre com as mulheres em relação às lutas dos negros. Tampouco gays e lésbicas apóiam automaticamente outros grupos oprimidos.

Os nazistas enviaram milhares de gays aos campos de concentração. No Chile gays chegaram a ser castrados e abandonados nas ruas, sangrando. Mas não é verdade que, mesmo diante de fatos como esses, os gays se tornem automaticamente anti-fascistas. Dezenas de milhares de gays apoiaram Hitler. Muitos usaram camisas marrons. Após chegar ao poder Hitler voltou-se contra os gays e massacrou-os na “Noite das Longas Facas”. Como podemos explicar esse apoio gay a Hitler?

Um gay oprimido dentro de uma jaqueta de couro nazista consegue ter pela primeira vez a sensação de poder. Isso facilita o ataque a judeus, mulheres e outros oprimidos. Para que qualquer grupo oprimido lute é necessário que tenha esperança. Quando uma pessoa se sente mal, “para baixo”, sente desespero. Procura uma vítima para chutar. Quando uma pessoa está bem, procura alguém pra dar um tapinha nas costas. Essa é a razão porque somente pela construção de um movimento socialista é possível unir os trabalhadores aos negros, mulheres, gays e lésbicas oprimidos. E é também a razão de porque é tão importante para gays e lésbicas organizarem manifestações como a “Parada do Orgulho Gay” e se sentirem capazes de assumirem-se, com orgulho, enquanto gays e – quando e onde é possível – como gays e lésbicas socialistas e revolucionários.

Karl Marx escreveu que o capitalismo unifica as forças de oposição. Mas ele também nos divide. Temos que lutar conscientemente por essa unidade. Somos um – todos nós, juntos – mas somente quando lutamos juntos.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Os ventos da mudança não param de soprar

Gay tem direito a pensão de previdência privada paga por companheiro que morreu – O Superior Tribunal de Justiça decidiu que um cidadão homossexual tem o direito de receber pensão do plano de previdência privada que era pago pelo companheiro que morreu. A relatora do processo ministra Nancy Andrighi, afirmou que quando é comprovada a união afetiva entre pessoas do mesmo sexo, o direito tem de ser garantido exatamente como acontece nos casos de união estável entre homem e mulher.

A decisão do STJ é inédita. Até hoje, o direito de os homossexuais receberem pensão se limitava aos casos de previdência pública. O tribunal reconheceu que o casal conviveu durante 15 anos e determinou que a Previ (Caixa de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) pague a pensão. A Previ se negava a pagar a pensão com a justificativa de que só haveria esse direito “a partir do momento em que a lei reconheça a união estável entre pessoas do mesmo sexo”.

Os ministros, contudo, cassaram a decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que havia rejeitado o pedido de pensão. De acordo com o TJ fluminense, a Lei 8.971/94, que trata do direito de sucessão, não poderia se aplicar às relações entre parceiros do mesmo sexo. A ministra Nancy Andrighi, contudo, cassou a decisão.

Para Nancy, a união entre pessoas de mesmo sexo não pode ser ignorada já que as estruturas de convívio familiar estão cada vez mais complexas. A relatora ressaltou que o preconceito não pode servir como justificativa para que sejam suprimidos direitos fundamentais das pessoas. Os ministros acompanharam a decisão por unanimidade, com o argumento de que a união entre homossexuais, hoje, é vista como entidade familiar exatamente como as tradicionais.

Advogados que trabalham com direito de Família comemoraram a decisão. Para o advogado Felício Rosa Valarelli Junior, é preciso “levar em consideração a evolução da sociedade e o surgimento de novas entidades familiares, compostas por pessoas do mesmo sexo e filhos adotivos no seio da família”. Segundo o advogado, em outras decisões, o Judiciário já reconheceu o direito aos benefícios da previdência pública a pessoas do mesmo sexo. Por isso, não poderia agir diferente no caso de previdência privada (por Rodrigo Haidar, iG Brasília).

É como eu, Coccinelle, sempre digo. Pouco importa o medo dos covardes ou dos egoístas que acham que a vida existe em função deles. Como se pode ver, de nada adianta querer deter os ventos. Eles sempre sopram independente de nossa vontade e, ao soprarem, trazem ou provocam mudanças, que cedo ou tarde acontecem e a tudo contamina. Assim é a vida. Para quem não entende isso, só resta espernear bem baixinho.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Nas ondas do REBOLATION

E chegou mais um carnaval. O negócio agora é se jogar. Por todo o Brasil não se pensa em outra coisa. O país fechou pra balanço e só reabre as portas após o Rei Momo decreta que pode. Seja em Recife, Olinda, São Paulo, Ouro Preto, Rio de Janeiro o povo só pensa em se acabar no ritmo do frevo, do samba ou das marchinhas. Lá para as bandas de Salvador o negócio agora é rebolar na onda do rebolation. É um tal de rebolation pra lá, um tal de rebolation pra cá. Ninguém consegue mais ficar parado. Ninguém consegue tirar o rebolation da cabeça. Por quê? Talvez pelo fato de que quando as rádios começam a tocar uma música pré-definida como a música do carnaval não param mais e a música que poderia divertir passa a ser uma lavagem cerebral. Talvez pelo fato de que o Léo Santana, vocalista da banda Parangolé, que canta a referida música, seja a nova sensação do verão baiano. Garboso como poucos o cara sabe surfar na onda do rebolation. E como ele surfa bem. Para comprovar, é só assistir ao vídeo abaixo. Um excelente carnaval para todo mundo! É o que deseja Coccinelle, ou seja, eu!
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domingo, 7 de fevereiro de 2010

Estamos com fome de amor

Uma vez Renato Russo disse com uma sabedoria ímpar: “Digam o que disserem, o mal do século é a solidão”. Pretensiosamente digo que assino embaixo sem dúvida alguma. Parem pra notar, os sinais estão batendo em nossa cara todos os dias.

Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes, danças e poses em closes ginecológicos, chegam sozinhas. E saem sozinhas. Empresários, advogados, engenheiros que estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos.

Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos “personal dance”, incrível. E não é só sexo não, se fosse, era resolvido fácil, alguém duvida?

Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho sem necessariamente ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico, fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão “apenas” dormir abraçados, sabe, essas coisas simples que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.

Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção. Tornamos-nos máquinas e agora estamos desesperados por não saber como voltar a “sentir”, só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós.

Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada no site de relacionamentos Orkut, o número que comunidades como: “Quero um amor pra vida toda!”, “Eu sou pra casar!” até a desesperançada “Nasci pra ser sozinho!”.

Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis.

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento e estamos a cada dia mais belos e mais sozinhos. Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário, pra chegar a escrever essas bobagens (mais que verdadeiras) é preciso encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa. Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia é feio, démodé, brega.

Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, “pague mico”, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta.

Mais (estou muito brega!), aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois.

Quem disse que ser adulto é ser ranzinza? Um ditado tibetano diz que se um problema é grande demais, não pense nele e se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele. Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo ou uma advogada de sucesso que adora rir de si mesma por ser estabanada; o que realmente não dá é continuarmos achando que viver é out, que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo ou que eu não posso me aventurar a dizer pra alguém: “vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida”. Antes idiota que infeliz! (por Arnaldo Jabor)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Poema Falado: Canto de Iemanjá

Na tradição do candomblé, Iemanjá é a mãe suprema, pois de seu ventre nasceram todos os orixás. De acordo com Pierre Verger (Orixás. São Paulo: Corrupio, 1981), “Iemanjá, é o orixá dos Egbá, uma nação iorubá estabelecida outrora na região entre Ifé e Ibadan, onde existe ainda o rio Yemanjá. As guerras entre nações iorubás levaram os Egbá a emigrar na direção oeste, para Abeokuta, no início do século XIX. Não lhes foi possível levar o rio, mas, transportaram consigo os objetos sagrados, suportes do axé da divindade, e o rio Ogun, que atravessa a região, tornou-se, a partir de então, a nova morada de Iemanjá. Este rio Ogun não deve, entretanto, ser confundido com Ogun, o orixá do ferro e dos ferreiros”. No Brasil, o culto a Iemanjá voltou-se para as águas salgadas. Aqui, seus fiéis voltam-se, preferencialmente, para os mares quando desejam dirigir pedidos à grande mãe. E Iemanjá jamais nega um pedido de quem o faz com o coração limpo, como já demonstrou o Dorival Caymmi quando escreveu: “Eu mandei um bilhete pra ela pedindo para ela me ajudar. Ela, então, me respondeu que eu tivesse paciência de esperar. O presente que eu mandei pra ela de cravos e rosas vingou”. Como se pode perceber o segredo é ter paciência de esperar para que o presente vingue. E ele sempre vinga.

Excepcionalmente, o Poema Falado de fevereiro está a ser publicado não no primeiro domingo do mês, mas, sim, na primeira segunda-feira, pois amanhã será o grande dia, o dia de Iemanjá. Para homenageá-la, o poema “Canto de Iemanjá”, do Vinícius de Moraes: “Iemanjá, lemanjá. lemanjá é dona Janaína que vem. Iemanjá, Iemanjá. lemanjá é muita tristeza que vem. Vem do luar no céu. Vem do luar no mar coberto de flor, meu bem, de Iemanjá. De lemanjá a cantar o amor e a se mirar na lua triste no céu, meu bem, triste no mar. Se você quiser amar, se você quiser amor, vem comigo a Salvador para ouvir lemanjá, a cantar, na maré que vai e na maré que vem. Do fim, mais do fim, do mar. Bem mais além. Bem mais além do que o fim do mar. Bem mais além”. Vale a pena conferir o vídeo abaixo, nosso presente para Iemanjá, senhora e rainha do mar. Louvemos, então, Iemanjá! Odóiyá! (por Sílvio Benevides, Coccinelle e Papillon).